Sentimento da Dialética
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pt-BRSentimento da DialéticaDuas Exposições
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<p>Ainda continuam atuais os dois temas abordados há tempos por Otília Arantes, ao apresentar as exposições de Ester Grinspum (<em>Stultifera Navis</em>, na Galeria Paulo Figueiredo em 1986) e de Bela Gold (<em>O</em> <em>Livro da Memória</em>, no Museu Lasar Segall em 2004), respectivamente: a “Loucura” e o “Holocausto”. Segundo Otilia Arantes, a série de desenhos de Ester Grinspum ao invés de teatralizar a loucura, de fantasmar os delírios de uma subjetividade exasperada, de uma imaginação crispada — os monstros do “sono da razão” —, sugere antes de tudo o próprio embate entre a razão e a irrazão, explicitados no confronto de duas formas: de um lado, uma forma monolítica, fechada, rochedo ou “Teatro do mundo” (conforme o título adotado pela artista nos estudos preliminares); de outro, uma forma irregular, aberta, pássaro ou “Nave”. Os desenhos de Ester Grinspum nos remetem inevitavelmente ao desconcerto do mundo, e isto, sem fazer a crônica miúda, mas traçando a épura mais sofrida, a da abstração anônima, própria à idade contemporânea. Na origem dessa experiência confiscada estaria a própria estrutura da sociedade burguesa — literalmente esquizofrênica. Assim, todo esse conjunto de desenhos nada mais seria do que uma grande alegoria da loucura, e do mundo que a alimenta. Ao esquadrinhar a iconografia do século XV — raridades e disparates nas telas de Bosch, Brueghel ou Dürer —, Ester não está interessada na trama da época que os sustenta, e sim em surpreender o grau zero da fisionomia plástica da loucura. Se Foucault é também, numa justa e original medida, a fonte de Ester, enquanto o filósofo, que também recorre à iconografia, procura nas imagens pictóricas a cifra terminal de um tecnologia da razão, a artista refaz o caminho inverso e vê nelas a pré-figuração da ameaça moderna. </p> <p>Do mesmo modo, outra difícil tarefa foi a que se impôs a artista argentina Bela Gold, ao trazer para o domínio da arte o maior dos horrores do século XX, o Holocausto — caso exista a expressão estética e, sendo possível, seja também verdadeira, como observa Otília Arantes. A hesitação no que diz respeito à representação artística do mal absoluto, ela mesma um salto mortal no inferno do inapresentável, não é obviamente apenas da Autora, que parece oscilar, como ocorria com Adorno (a quem, aliás, recorre), ao se mostrar indeciso sobre uma tal possibilidade: para ele, ora a simples composição de um poema após Auschwitz é um ato bárbaro, ora a arte ainda é uma frágil barreira a retardar o seu retorno. Bela opta evidentemente por esta segunda hipótese, e, para contornar a proibição de elevar o horror à dimensão transfiguradora da arte, com suas gravuras, colagens e livros-objeto-dossiê, foge de sua simples representação, lançando mão de fragmentos de realidade — listas de nomes, fotos, cartas, assinaturas, inscrições, etiquetas —, salvando do anonimato a memória de milhares de vítimas de uma violência inenarrável. Tudo isto, sem estridência, sem ceder ao experimento de efeito, na forma contida de uma arte por assim dizer conceitual ou minimalista (na caracterização de Rita Eder), de modo a escapar à armadilha da estilização pós-catástrofe, fazendo-nos meditar, em silêncio, sobre a pulsão de morte de um novo sistema de violência que está se armando no horizonte. “Temendo o pior, saudemos a contenção e o recato da arte da rememoração segundo Bela Gold”, conclui Otília.</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Adorno, Bela Gold, Ester Grinspum, Foucault, Holocausto, Livro da Memória, Loucura, <em>Stultifera Navis¸ </em>Teatro do Mundo</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2024-10-132024-10-13Klee e a utopia do movimento
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<p>Publicado na <em>Revista Discurso</em> em 1976, <strong>Klee, a utopia do movimento</strong>, ensaio a bem dizer de estreia de Otilia Arantes ao voltar de seu doutorado na França, “encharcada” de Filosofia Francesa, como chegou a declarar em entrevista, vale como um documento histórico de um momento de sua crítica — à época mais voltada para as artes visuais. O texto é na verdade um longo comentário à famosa afirmação de Paul Klee: “a arte não reproduz o visível, ela torna visível”: “Visão sem correlato, a pintura recuaria do <em>visto</em> ao próprio <em>ver</em>, dos objetos que incidem sobre o olho e das formas que aí se desenham, ao próprio olho e ao ato de olhar — do constituído ao constituinte, da significação à gênese das significações. Pela ausência de objeto (“a arte... torna visível”), a percepção visual ganharia anterioridade em relação ao mundo dado, e a pintura, não mais refigurativa, alcançaria o estatuto de ‘filosofia figurada da visão’ — como a define Merleau-Ponty”, fazendo de Klee a ilustração feliz de suas formulações teóricas. No entanto — e aqui Otília começa a se distanciar do Filósofo —, a “utopia de uma obra de arte puramente dinâmica” perseguida por Klee, talvez não corresponda exatamente ao mero “entrelaçamento de visão e movimento", como se lê em <em>L’Oeil et l’Esprit</em>, isto é, por simples contaminação. Para fugir à tradição pictórica, sujeita ao despotismo do ver, e, portanto, à “representação”, o pintor propõe, em contrapartida, especialmente em seus cursos na Bauhaus, uma pintura como “puro movimento”, inspirando-se, seja nos movimentos da natureza, seja nas artes do movimento, como a música e a dança — “formas-motrizes” capazes de agir sobre o espectador de modo a transformar sua recepção visual passiva em corporal e ativa. Segundo Klee, passar dos objetos às sensações significa passar de um saber do olho a um saber (ou <em>sentir</em>) do próprio corpo, é abandonar o puro entendimento ou a razão em nome da sensualidade, ou de algo como o “desejo”, não no sentido freudiano de <em>Wunsch</em> (que implica teleologia, ou seja, realização, ou preenchimento), mas como força-produtiva — o conceito é de Jean-François Lyotard em <em>Discours Figure</em>, que toma também como exemplo Paul Klee, e serve de guia nas conclusões a que chega o ensaio da jovem Otília Arantes.</p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: O Corpo, Desejo, François Lyotard, Gestualidade, Linha, Merleau-Ponty, Movimento, Música, Natureza, Olhar, Paul Klee, Representação, Sensação, Visão.</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2024-10-052024-10-05Formação e Desconstrução
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<p>Os textos reunidos neste volume, escritos entre 1989 e 1995, encerram uma fase do pensamento de Paulo Arantes, que ele próprio faz remontar ao início dos anos 1970, quando concebeu pela primeira vez, sob o rótulo de “ABC da miséria alemã”, um projeto de redescrição da crítica da ideologia pelo filtro da experiência intelectual característica de realidades nacionais periféricas. Talvez seja bom começar por esclarecer o que esses textos não são – já que o assunto pode acarretar alguns equívocos. Com efeito, todos eles giram, em maior ou menor grau, em torno da hipótese de uma “Ideologia Francesa” no âmbito do pensamento ocidental do pós-guerra: uma criação original de Arantes, embora apoiada em um ou dois antecedentes, cujo significado será preciso investigar com algum detalhe. Limitando-nos, por enquanto, à sua inegável força evocativa, o primeiro mal-entendido seria, então, a expectativa de encontrar aqui um protesto humanista-materialista contra a Destruição parisiense da Razão na temporada pós-sartriana do pensamento francês e, em seguida, franco-americano: algo como uma crítica transcendente da hoje famigerada “esquerda pós-moderna”. Nada mais longe das intenções do autor. A reflexão de Arantes possui, de fato, em toda a sua extensão, um núcleo materialista na acepção mais básica e nunca abandonada do termo, visível na busca constante, a contrapelo da tendência socialmente necessária à autonomização das ideias, de “um sistema de mediações historicamente especificadas”, e ainda centradas na força de gravidade negativa das relações de produção material. Neste sentido, “o <em>esclarecimento</em> dos conflitos reprimidos e escamoteados” continua sendo reivindicado como padrão de crítica em oposição ao “calafrio” estetizante (foucaultiano, no caso) “diante da indiferenciação das formações ideológicas sem avesso” Porém, essa camada elementar é ponto de partida e não de chegada; justamente o <em>problema</em> da crítica da ideologia pode ser tomado como um ângulo privilegiado para se reconstruir a trajetória de Arantes, em direção a uma especificação original do seu sentido com base em coordenadas espaciais – deslocamentos periféricos – e temporais – transformações históricas do sistema-mundo. Antecipando: não se trata apenas de objeções clássicas (mas nem sempre absorvidas) ao reducionismo mecânico da determinação economicista da cultura, e sim do questionamento daquele confisco linear-progressista do materialismo histórico que ao próprio mecanicismo, aliás, fora associada desde os tempos da Segunda Internacional, e que constitui sem dúvida, junto com certas implicações locais, um dos alvos principais da crítica de Arantes – digamos – de 1964 a 2018.</p> <p>(Trecho do Posfácio de Giovanni Zanotti)</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Bento Prado Jr., Desconstructive Turn, Filosofia Americana, Foucault, French Theory, Gérard Lebrun, Ideologia Francesa, Kojève, Lacan, Rorty, Tradição literária brasileira, Vanguarda literária.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2024-04-082024-04-08CHAI-NA
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<p>Redigido há mais de 10 anos, o livro de Otília Arantes, <em>Chai-na</em>, motivado à época, de forma mais imediata, pelos megaempreendimentos urbanos e arquitetônicos, “alavancados” em grade parte por eventos como as Olimpíadas de Pequim de 2008, ou a Expo Internacional de Xangai, em 2010, além de um documento histórico, acreditamos poder ser lido como, de certa forma, uma antecipação do que estamos assistindo hoje – algo como um diagnóstico cifrado do que viria a ocorrer com o crescimento desenfreado da China. O próprio título <em>Chai-na </em>(demolir-aí em mandarim), já anuncia que se trata de uma leitura pelo avesso da tão alardeada modernização chinesa. Segundo Otília Arantes, a máxima de Mao Tse Tung – “sem destruir não se constrói” – que servira de álibi para a desurbanização do país, ressuscitou, a partir dos anos 90, com sinal trocado, para a reconquista das antigas cidades e criação de novas. Tudo isso, numa espécie de avalanche de proporções ciclópicas, com a mesma violência das ocupações, desde sempre predatórias, de territórios alheios. Que grandes projetos ou megaeventos, como Olimpíadas, sirvam de pretexto, não chega a ser uma novidade, não fosse a escala e a rapidez com que uma tal criação-destrutiva se processou, em sua fúria, por assim dizer, compulsiva. Trata-se, portanto, de um ensaio sobre a máquina chinesa de crescimento, cujo fundo falso revela os grandes fetiches urbanos que, apesar de tudo, sobreviveram até agora, ao menos até o despertar do sonho chinês, de uma Great Leap Forword, para um cenário de catástrofes. Partindo de antigas experiências de mundos sonhados que foram desmoronando ao longo de mais de um século de “ruínas do futuro”, o livro <em>Chai-na </em>procura interpretar o que estava acontecendo na Nova China, tanto quanto com as fantasmagorias do nosso tempo, expressas nas suas formas urbanas extremas. Nas palavras de Adrián Gorelik, em resenha para a Vitruvius, talvez se possa lê-lo como “uma fábula benjaminiana sobre o mundo atual”.</p> <p>Trata-se de uma reprodução da edição da EDUSP (em fac-símile, à diferença da maioria dos demais volumes do site), na intenção de preservá-la na sua forma original, inclusive em seu projeto gráfico (de Carol Pedro, responsável também pela revisão final desta edição virtual), dada a importância que tem no livro, onde as imagens não são apenas ilustrações pontuais, mas compõem algo como uma narrativa visual complementar, que torna a forma do livro quase tão essencial quanto o texto.</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> China, Deng Xiaoping, Era das reformas, Evil Paradises, Fredric Jameson, Herzog & De Meuron, Hiperurbanização, Koolhaas, Mao-Tse-Tung, Máquinas de crescimento, Moscou, Olimpíadas, Paris capital do século XIX, Pequim, Perestroika, Ruinas do futuro, Sonho americano, Susan Buck-Morss, Walter Benjamin, Xangai, Zonas Econômicas especiais.</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2024-03-102024-03-10Ressentimento da Dialética
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<p>Avesso a leituras idealistas, Paulo Arantes concebe a dialética antes de tudo como uma tentativa de transcrição conceitual, de formalização, de uma experiência intelectual determinada. Se é verdade que a disponibilidade social, historicamente situada, de certos intelectuais configura uma predisposição para a dialética, a livre oscilação inerente a essa <em>intelligentsia </em>e a dialética de algum modo convergem. Esse cruzamento entre tendência social e esquema formal, perseguido e mapeado em suas diversas configurações, constitui a linha mestra de uma construção em vários planos. Num, a comparação do pensamento de Hegel com as outras versões modernas da dialética frequentemente desqualificadas enquanto formas subjetivas e negativas (a conversação "brilhante" da vida mundana, a ironia, o niilismo etc.), assentada por Arantes no solo comum da experiência intelectual, ao estabelecer novas pistas para a compreensão da gênese intelectual dessas dialéticas, possibilita uma apreciação ímpar da singularidade da dialética hegeliana. Uma vez resgatado o conjunto de circunstâncias que presidiu o renascimento moderno da dialética, rompe-se aqui com um procedimento secular: em vez de tomar a dialética de Hegel como um aparato lógico apto a ser aplicado aos fatos do mundo, isto é, como um método atemporal, Arantes atribui valor cognoscitivo à exposição de sua gênese histórica, tomando os seus conceitos como a transposição formalizada de nexos reais, objetivados pelo curso do mundo. Esse trânsito de mão dupla entre crítica da teoria do conhecimento (ou da cultura) e crítica da sociedade, ou ainda, em outro registro, o interesse pelo percurso intelectual e histórico da dialética atestam um diálogo crítico com a tradição do marxismo ocidental, em particular com algumas de suas obras mais notáveis. <em>Ressentimento da Dialética</em> não seria possível e ao mesmo tempo prescindiríamos de um de seus aspectos mais originais se não o tomássemos pelo menos como uma crítica parcial de uma linhagem que inclui, entre outros, <em>O Jovem Hegel</em> (mas também os estudos sobre a cultura literária alemã) de Georg Lukács; <em>Razão e Revolução</em> de Herbert Marcuse; <em>Cadernos do Cárcere</em> (em especial as partes referentes aos intelectuais e sua organização da cultura) de Antônio Gramsci; <em>O que é a Literatura</em> de Jean Paul Sartre (cujo conceito de má-fé é complementado aqui pelo de ressentimento); <em>Três Estudos sobre Hegel</em> e <em>Dialética Negativa</em> de Theodor Adorno. Apoiado numa leitura própria de A Ideologia Alemã, de Marx e Engels, Paulo Arantes reconstitui a história ideológico-política da moderna intelligentsia europeia. O que lhe permite-graças à afinidade estrutural entre as diversas modalidades de "atraso" histórico resultantes do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo - sistematizar as diversas circunstâncias nacionais do capitalismo retardatário (Alemanha, Itália e mesmo França). Ao lado do inegável ganho para a compreensão das particularidades do capitalismo, esse mapeamento torna-se essencial para a compreensão de uma camada, os intelectuais, cuja propensão para assumir papéis sociais conflitantes constitui o solo da dialética moderna. Seja por conta de um sentimento de missão de uma vocação dirigente, ou do próprio ressentimento que impulsionam às vezes os intelectuais a se aliar às classes revolucionárias. Essa análise importa tanto para um balanço dos êxitos e vicissitudes do marxismo como para a constituição de um futuro programa emancipatório.</p> <p>(Ricardo Musse, orelha da edição original, 1996)</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong><em>Bildung,</em> Cultura, Dialética, Diderot, Goethe, Gramsci, Hegel, Idealismo alemão, Iluminismo francês, Intelligentsia, Ironia, Lukács, Marx, Miséria alemã, Modernização, Niilismo, Periferia Europeia, Populismo russo, Rahel Varnhagen, Romantismo alemão, Século XIX.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2024-02-202024-02-20Mário Pedrosa
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<p>Compõem este volume alguns dos textos de Otília Arantes sobre Mário Pedrosa que podem ser lidos como Apêndices – primeiros esboços ou complementos posteriores – a seu livro <em>Mário Pedrosa, itinerário crítico </em>(de 1991, reproduzido neste site)<em>. </em> Na abertura, uma intervenção pública - homenagem ao Crítico por ocasião de seus 80 anos e do lançamento da primeira edição de sua tese, <em>Da natureza afetiva da forma</em>. Datada de 1949, permanecia até então inexplicavelmente inédita, embora pioneira (e não só no Brasil) ao adotar a Gestalttheorie como chave de compreensão da obra de arte. O prefácio a essa edição, organizada por Otília, abre a segunda parte deste volume. Fala e prefácio pelos quais a Autora inicia suas incursões na obra de Mário, tentando descobrir nesta uma linha de continuidade dada por sua tentativa permanente em conciliar o rigor e a universalidade da forma artística com sua dimensão ao mesmo tempo particular, afetiva ou expressiva, levando-o a combinar, por exemplo, as lições dos mestres da Gestalt com as de outros autores, mais atentos à especificidade da percepção artística. Síntese que encontrará, mais tarde, exemplarmente realizada na arte neoconcreta.</p> <p>Nesse mesmo período (início dos anos 80), Otília, juntamente com o grupo do CEAC, pesquisava a produção artística da década de 1960, quando Mário era o grande mentor intelectual das neovanguardas do eixo Rio-São Paulo, às quais preferia chamar de pós-modernas, num momento, aliás, em que a expressão ainda não tinha sido adotada pela crítica internacional. Assim, no número de <em>Arte em Revista </em>(publicada pelo grupo) sobre a Pós-Modernidade, foi incluída uma seleção de textos do Crítico, precedidos de uma nota de apresentação de Otília: “Mário Pedrosa diante do pós-moderno” (embora parcialmente retomada na Conclusão do livro citado, está reproduzida aqui na sua forma original, mais circunstanciada).</p> <p>Em sequência, ainda na primeira parte deste volume, uma comunicação ao Seminário <em>Estudos de Arte desde América Latina</em>, da Getty Foundation em Buenos Aires, de 1999, “Mário Pedrosa e a construção da Modernidade Brasileira”. Na verdade, uma recapitulação do <em>Itinerário crítico</em>, mas tendo como foco um tema tão polêmico quanto central na crítica de Mário, especialmente no que diz respeito à nossa modernização: a relação nacional/internacional na arte e na arquitetura brasileiras.</p> <p>Na segunda parte, mais dois prefácios, de coletâneas da EDUSP, que se impõem por oferecerem um panorama da produção artística nos últimos dois séculos. De forma mais específica, ambos se detém na análise de movimentos e artistas brasileiros – “De Acadêmicos a Modernos” (da Missão Francesa às neovanguardas dos anos 60/70, arquitetura incluída) –, e estrangeiros, do Ocidente e do Oriente – “Modernidade cá e lá”.</p> <p>Encerrando, um pequeno Apêndice polêmico, “Mário Pedrosa inatual”, uma fala, em 2000, no Memorial da América Latina, por ocasião do centenário de Mário Pedrosa e lançamento do quarto volume da série da EDUSP, onde a Autora questiona o amálgama, pelos curadores da Mostra “500 anos +”, entre o que estava sendo proposto como Redescoberta do Brasil e as posições do Crítico em defesa das formas primitivas de expressão artística.</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong> Arquitetura Moderna Brasileira, Arte abstrata, Arte Concreta, Arte japonesa, Arte Neoconcreta, Artistas brasileiros, Brasília, Calder, Cézanne, Coleção Widener, Di Cavalcanti, Forma artística, Gestalt, Grupo Frente, Kandinsky, Käthe Kollwitz, Lygia Clark, Mário Pedrosa, Miró, Missão Francesa, Modernidade, Modernistas, Morandi, Neovanguardas, Oiticica, Pop’art, Portinari, Pós-Modernidade, Surrealismo, Tachismo, Visconti, Volpi, Worringer.</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2023-10-022023-10-0210 anos das Jornadas de Junho de 2013
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<p>O que as Jornadas de Junho de 2013 representaram para um intelectual solitário? Bem ou mal, é essa a pergunta que norteia a comunicação de Paulo Arantes no seminário <em>Visões de Junho</em>. Ao evocar a expressão que remete à Primavera dos Povos, em 1848, quando o povo francês tentou pela primeira vez (sem sucesso) o assalto aos céus de Paris, Arantes reelabora sua empolgação imediata com o movimento iniciado pelo MPL e justifica o exagero: essa força hiperbólica não é outra coisa senão arrebatamento. Essa simples palavra, que pode parecer parnasiana e descabida para a elaboração política, nas palavras do professor, ganha determinação histórica e força conceitual. A movimentação política é pensada, então, enquanto êxtase místico indispensável à ação militante, pelo empuxo coletivo que a crença na destruição da ordem social existente pode gerar. Como nos relembra Arantes, essa hipótese foi fortemente defendida por Carl Schmitt em sua <em>Teologia política</em>. Contudo, o arrebatamento místico desmistifica o fim de uma era, a saber, se trata do susto que o fim do fim da história provocou entre leigos e bem formados. Passado o tempo tedioso do revezamento institucional, iniciado com a redemocratização e a vitória de FHC, o Brasil vivencia o encontro marcado com a volta da história mundial, engrossando o caldo das revoltas iniciadas pela Primavera Árabe (outra primavera, aliás). É entre incrédulos e inebriados que assistimos o levante de movimentos sociais locais, em que novos agentes estão dispostos a contestar os acordos até então firmados para a manutenção da <em>paz social</em> em sociedades civis permanentemente em guerra. O pacto ruiu! Não é mais possível conceber reconhecimento à vitória vitalícia do capitalismo democrático. O fundo teológico desse arrebatamento é tão forte que mobiliza não só a esquerda autonomista, mas também os revolucionários da fé cristã, ligados à extrema direita e dispostos a disputar militarmente os portões do Armagedom que anuncia a extinção de uma vida terrena insustentável. Eis um ponto de inflexão: é preciso uma alternativa dentro do fim. Essa nova disputa é o que parece nos arrebatar. </p> <p>(Resenha de Nathalia Colli)</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Arrebatamento; Extrema Direita; Fim da História; Jornadas de Junho; Teologia política.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2023-09-242023-09-24Berlim Reconquistada
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<p>O presente ensaio, na verdade mais uma crônica, que poderia também se intitular Berlim ano 2000, é o resultado de uma revisão bibliográfica e uma verificação <em>in loco</em> em torno das transformações urbanas berlinenses após a Queda do Muro, observadas e documentadas em viagem da Autora a Berlim em 2000, ao mesmo tempo recuando e comparando às inciativas do IBA (Internationale Bauausstellung Berlin) dos anos 80 – também visitadas por ela no ano de 1990, quando o processo de reunificação se iniciava. Ou seja, um projeto da Alemanha de criar uma metrópole ímpar, uma capital não apenas local mas mundial, que se apresentasse enfim ao mundo como um grande centro empresarial e cultural, cuja arquitetura de ponta a faria brilhar na forma de uma <em>Cultural Global City</em>. Inclusive estabelecendo, seja pelas inúmeras atividades culturais (tradicionais ou alternativas), seja pela variedade física, funcional e social, um contraste nítido com o resto do Ocidente: a Cultura (alemã) versus a Civilização (liberal, burguesa, filistina etc.). O grande trunfo desta renascença da capital reconquistada seria a tão decantada <em>Mischung</em>, cujo coração, ou símbolo máximo, segundo a Autora, foi a reconstrução da Potsdamer Platz, na sua variedade arquitetônica, de funções e, pretensamente, humana, com seus espaços culturais e de recreação junto a residências e escritórios (onde estariam representadas algumas das maiores empresas alemãs, Sony, Daimler-Benz e Brown-Bovery) – uma verdadeira <em>plaque tournante </em>no coração das duas Berlins<em>. </em> Ao mesmo tempo o texto acompanha as diferentes mudanças que vão ocorrendo tanto no antigo Mitte, como nos diferentes bairros de Berlim Leste e Oeste (em nome de uma diversidade nem tão visível assim...), retrocedendo sua análise crítica aos esforços, sempre pautados pela ideologia da “mistura”, como os da Bauhaus, ao criar, desde os anos 20, as <em>Siedlungs</em> - em substituição às <em>Mietkasernen </em>do início de século -, e aos conjuntos habitacionais da RDA.</p> <p>Passados 20 anos, muitos dados ou prognósticos podem ter se alterado, mas o essencial das tendências que então já se desenhavam, apesar das boas intenções que pudessem nortear mais esta estratégia de pôr em funcionamento uma grande máquina de crescimento – no caso, azeitada pela cultura –, certamente ainda podem ser consideradas atuais. De qualquer modo, acreditamos ser um documento importante para as discussões de Otilia Arantes sobre os Planos Estratégicos, adotados pela corrida grandes cidades em disputa por supremacia global, e certamente não só no plano das imagens.</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Berlim, Berlim Leste, Berlim Oeste, Berliner Ensemble, Brown-Bovery, Bundestag, Capital Cultural Mundial, Chancelaria, Cine Imax, Daimler-Benz, Filarmônica de Berlim, Global City, Grésillon, Hans Kollhoff, Hans Scharoun, Höfe, IBA, Kreutberg, Leipziger Platz, Microcidade-evento, Mietkasernen, Mischung, Mistura, Mitte, Muro de Berlim, Norman Foster, Prinzlauer Berg, Potsdamer Platz, Renzo Piano, Richard Rogers, Sony Center, Staatsoper, Stefan Krätke.</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2023-08-142023-08-14Rainha Lira
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<p>A partir da leitura de <em>Rainha Lira</em>, última peça teatral de Roberto Schwarz, Paulo Arantes busca revelar a novidade do gênero literário diante de sua forma híbrida: embora escrita nos moldes dramáticos, a obra encontra o ensaísmo clássico do crítico brasileiro. Segundo Arantes, isso decorre a partir de certa técnica composicional cuja multiplicação de vozes está no centro da estrutura estilística. Nesta <em>assembleia</em> em que ninguém é interrompido, as ideias apenas seguem em fluxo contínuo formalizando certa contradição generalizada que assume ares machadianos em suas incongruências e multiplicações, dando a cada uma das personagens complexidade singular e força sintética em seu conteúdo histórico, já que a voz da multidão ficcionalizada pede interpretação cuidadosa, mesmo quando envolvida pelo linguajar das ruas. Um ensaio sui generis, portanto. Pois se trata de um retrato de época armado por um intelectual veterano de 1964 diante do problema Brasil, objeto que ocupou o centro de suas investigações ao longo da vida. <em>Rainha Lira, </em>assim, se consolida como a primeira manifestação artística de fôlego sobre a última década brasileira: não seria possível pensar um ensaio em seus moldes clássicos, tampouco elaborar uma dramaturgia que coubesse nos palcos, foi preciso encontrar a saída ambígua entre a flexibilidade literária e o pensamento vivo do ensaio para elaborar uma imagem do contemporâneo, sem correr o risco de cravar um veredicto final sobre o período histórico que segue em aberto. Algo como sustentar o impacto de 2013 não só na política, mas também na composição artística e intelectual, cujo abalo sísmico das ruas perturbou a paz até mesmo dos que o assistiram de suas escrivaninhas. A experiência da formação reencontra o chão da vida social e lança uma hipótese para contribuir com o enigma da história brasileira, enfim decifrado pela figuração do Coiso. E se não for assim, não há de ser um erro, já que a liberdade do texto dramático não implica necessariamente em um acerto de contas com a história.</p> <p>(Resenha de Nathalia Colli)</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Roberto Schwarz, Rainha Lira, Junho de 2013, bolsonarismo, ensaio, teatro, Machado de Assis, Cultura e Política, dualidade de poder, populismo.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2023-08-132023-08-13Urbanismo em revista
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<p>Esta coletânea, organizada especialmente para o site <a href="https://sentimentodadialetica.org/dialetica/workflow/index/152/sentimentodadialetica.org">sentimentodadialetica.org</a>, é composta, numa Primeira parte, de uma sequência de 5 textos (em geral conferências, uma delas inédita), que vão de 1993 a 2000, e que representaram inflexões importantes nos estudos da autora sobre os impasses do urbanismo: do esgotamento do modelo de planificação do Movimento Moderno, passando pelo receituário das intervenções “modestas”, logo transformadas em apologia da cidade fragmentária e até mesmo caótica, o que acabaria por recolocar na pauta a questão do planejamento, mas em novos termos — o “Planejamento Estratégico”, que começava a se impor no Brasil, com a presença entre nós dos mestres catalães. Anunciado já ao final da conferência de 2003 que abre a sequência — “Urbanismo em fim de linha” — o planejamento estratégico será finalmente esmiuçado no Simpósio Internacional sobre <em>Espaços urbanos e exclusão socioespacial</em>, promovido pela FAU-USP, no final de 1998, em conferência intitulada “A cultura nas novas ‘estratégias’ urbanas”, quando, possivelmente pela primeira vez entre nós, uma crítica tão ácida tenha ocorrido ao “empresariamento” urbano, próprio a este novo modelo de “gestão” das cidades. Embora tenha sido disponibilizada ao público e motivo de inúmeros debates, inclusive com um dos próprios formuladores do modelo que estávamos importando, o catalão Jordi Borja, na IV Bienal Internacional de Arquitetura de São Paulo (1999), nunca antes tinha sido publicada. Uma versão resumida encontra-se em “Vendo Cidades” da mesma época. Finalmente, dentre as inúmeras palestras e textos posteriores da autora sobre o tema, escolhemos para este volume a fala no Instituo Goethe de São Paulo, em 2000, sobre as “cidades-evento” — “Cultura e transformação urbana” — primeiro esboço do ensaio que comporia o livro <em>A cidade do pensamento único</em> (reproduzido neste site em <em>Cultura, poder e dinheiro na gestão das cidades</em>)<em>.</em></p> <p>Na segunda parte publicamos uma longa entrevista concedida a Adalberto da Silva Retto Jr. (publicada pela <em>Vitruvius</em>), em que, a partir do livro <em>Berlim Barcelona, duas imagens estratégicas </em>(Annablume, 2012), são recapituladas muitas das questões levantadas nos textos anteriores, agora focadas principalmente nas transformações ocorridas em Barcelona, por ocasião das Olimpíadas de 1992, e em Berlim pós queda do muro. Finalmente duas resenhas aparecem como apêndices. A primeira, sobre o livro de Camillo Sitte, <em>A construção da cidade segundo princípios artísticos</em>, publicado pela Ática em 2003 (leitura obrigatória dos contextualistas ou teóricos do lugar, referidos nos primeiros textos desta coletânea). A segunda resenha, do livro <em>A metrópole na periferia do capitalismo</em> (HUCITEC 1996), de Ermínia Maricato, que, paralelamente aos textos e falas aqui reunidos, traz, justamente, um complemento importante a mais, ao questionar as cidades que pretensamente estariam “dando certo”, explicitando os efeitos desastrosos da mundialização, especialmente para as cidades do capitalismo periférico.</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Barcelona, Berlim, Bohigas, Borja, Camillo Sitte, Castells, Cidade caótica, Cidade fragmentária, Cidades ocasionais, Cidades periféricas, Contextualismo, Corbusier, Culturalismo de mercado, Indovina, Intervenções pontuais, Logan, Lugar, Máquina de crescimento, Molotch, Mudialização, Não-lugar, Peter Hall, Peter Eisenman, Planejamento, Planejamento estratégico, Purini, Teyssot, Urbanismo.</p> <p> </p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2023-01-212023-01-21Arquitetura Moderna antigamente
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<p>Os textos aqui reunidos – ensaios, conferências e entrevistas – do final dos anos 1980 e início dos anos 90, resumem a posição de acerto de contas de Autora com a surpreendente e mais do que extemporânea apologia da Arquitetura Moderna, por assim dizer no apagar das luzes do projeto iluminista, empreendida originalmente por Jürgen Habermas, e replicada entre nós por arquitetos e teóricos da arquitetura, segundo a qual, liberada de sua sobrecarga funcional, a Nova Construção sobreviveria enquanto matriz do Racionalismo Ocidental. Na contracorrente, a presente coletânea abre com a conferência de 1988, em que Otília procura demonstrar, pela primeira vez (o argumento será desenvolvido mais adiante em livro e outros ensaios), que o envelhecimento do Movimento Moderno e sua correspondente perda de voltagem social é <em>estrutural</em>. O mote central, de que a Arquitetura Moderna teria se esgotado não por desvios ou acidente de percurso, mas na medida mesma da realização de seu programa — ou seja, que não teria sido neutralizada porque os tempos mudaram, mas porque cumpriu o prometido, por estrita fidelidade ao princípio de racionalização progressiva, a mesma racionalização absoluta que define a lógica social da ordem capitalista — é retomado nos textos subsequentes: respondendo às objeções de Roberto Schwarz e, em entrevista concedida a alunos de Arquitetura, ao refutar a dissociação, no argumento de Anatole Kopp, segundo o qual a AM deveria ser compreendida antes de tudo como uma causa e menos como um estilo.</p> <p>Seguem-se duas conferências que dão continuidade a essa discussão, a primeira, questionando a máxima de Philip Johnson, adotada pelos pós-modernos, de que “amamos a história enquanto os modernos a odiavam”; a segunda, divergindo da tentativa de enquadramento das especificidades da AM brasileira numa espécie de Regionalismo crítico. </p> <p>Por fim, ilustrando por assim dizer suas teses, Otília analisa a Arquitetura Moderna brasileira, na figura de três dos seus expoentes máximos, Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Paulo Mendes da Rocha, mobilizando, e ao mesmo tempo problematizando, o ponto de vista de um crítico, moderno por excelência, Mário Pedrosa, ou o do próprio Lúcio Costa, ao interpretar a “formação” dessa arquitetura. Finalmente, uma digressão, em que questiona a fase dita neomoderna ou “minimalista” de Paulo Mendes da Rocha.</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Adorno, Anatole Kopp, Arquitetura Moderna, Arquitetura Pós-Moderna, Arquitetura Moderna Brasileira, Brasília, Construtivismo, Corbusier, Habermas, História, Ideologia, Lúcio Costa, Mário Pedrosa, Mies Van der Rohe, Minimalismo, Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha, Regionalismo crítico, Regionalismo pós-crítico, Roberto Schwarz, Theo Van Doesburg.</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2023-01-162023-01-16Arquitetura francesa em dois tempos
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<p>Pouco mais de 25 anos separam os dois ensaios que compõem este volume. O primeiro foi redigido e publicado em 1988. O segundo, embora escrito em 2014, permanecia inédito. Reunidos agora na intenção de um balanço, pretendem sobretudo dar conta das transformações da arquitetura na França através de dois momentos, embora de grande animação, extremamente diferentes. Ou seja, que vão do rescaldo de 1968, do qual o Beaubourg (1976) é a expressão mais acabada, quando o Estado elege a cultura como política oficial — os grandes (e vistosos) equipamentos culturais (em especial os Grandes Projetos da Era Mitterand), acompanhados de seu contraponto complementar de valorização patrimonial e de uma arquitetura “modesta” e contextual—, a um novo surto no qual a França, e sobretudo Paris e seu entorno, cedem à corrida global pelos ativos imobiliários, de alto bordo, disputados pelas construtoras e os escritórios de ponta, que passaram, ao menos desde a virada de século, a dar as cartas (mesmo quando subsidiadas pelo Estado). Momento este em que a convergência entre cultura e mundo dos negócios (já presente obviamente na primeira fase — “a cultura é o nosso petróleo”, dizia o Ministro Jacques Lang) cede de vez às estritas imposições desse último e, neste vale tudo, novas frentes vão obrigatoriamente se abrindo, os inúmeros centros culturais sendo substituídos paulatinamente por butiques (mesmo quando butiques museus), prédios corporativos, edifícios públicos (ou que por natureza deveriam sê-lo), vinícolas, shoppings ou equipamentos esportivos. Nestes novos projetos, como dizia com pertinência François Chaslin, “as equipes são impressionantes; os aspectos financeiros, fundamentais, e as questões arquitetônicas relativamente secundárias”. Onda global, sem dúvida, mas em que a França, de sua posição de inegável vanguarda, ao menos em relação à grande virada cultural do último quarto do século XX, passa à de mera caudatária. Este duplo balanço, o primeiro elaborado às vésperas do bicentenário da Revolução Francesa e no auge do mandato de Mitterand, o segundo, ao se encerrar o ciclo conservador com Sarkozy na presidência, serve também de pretexto para ilustrar os caminhos e descaminhos da arquitetura mundial em meio século: dos grandes ideais (e projetos) aos grandes negócios — quando ela passa a obedecer antes de tudo aos imperativos do mercado, patinando nos excessos da irrelevância estética (apesar das extravagâncias formais). O percurso desses textos vai assim do Beaubourg à Fundação Vuitton e suas variantes mais prosaicas.</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Animação cultural, Arquitetura modesta, Beaubourg, Bernard Huet, François Chesnais, Gaudin, Gehry, Grand Louvre, Grandes Projetos, Grumbach, Jacques Lang, Jean Nouvel, La Défense, Mitterrand, Movimento Moderno, Patrimônio, Pei, Perrault, Portzamparc, Renzo Piano, Ricciotti, Rogers, Sarkozy</p>Otilia Beatriz Fiori Arantes
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2022-08-242022-08-24A moda dos museus
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<p>Os 5 títulos que compõem este volume são, no geral, conferências em eventos sobre Museus. Embora muitas passagens dessas exposições orais tenham sido incluídas em outras publicações ou entrevistas, pesou mais a suposição de que a reunião dos textos originais num pequeno volume temático facilitaria o acesso de uma futura geração de pesquisadores àquele capítulo decisivo do capitalismo em tempos de reestruturação produtiva. O primeiro deles, uma fala por ocasião da mostra “Novas construções de museus na República federal da Alemanha”, de 1991, aborda a relação espectador-obra de arte nesses Museus, em contraste com o que ocorria nos Museus Modernos. Partindo da meditação de Adorno, motivada pelo confronto entre as posições de Valéry e Proust sobre a neutralização da obra de arte naqueles espaços, conclui que, seja como for, eles, ainda assim, justamente devido à sua neutralidade, permitiam ao visitante solitário o prazer de poder concentrar-se diante de algumas obras escolhidas. Passados 50 anos, os Novos Museus estariam longe de propiciar qualquer tipo de recolhimento, solicitando do público, no máximo, uma atenção distraída. Das múltiplas atividades oferecidas às extravagâncias arquitetônicas, esses museus mobilizam inúmeros recursos para satisfazer um novo contingente de visitantes-consumidores, ao mesmo tempo em que abrigam uma produção artística cada vez mais concebida na escala das massas, isto é, na exata medida do consumo de uma sociedade afluente. O texto intitulado não por acaso “Contaminações” resume o roteiro dessas transformações, quando diferentes ramos de atividades parecem funcionar interligados numa imensa rede de conexões igualmente “empreendedoras”, e na qual um dos ingredientes estratégicos é a circulação permanente das pessoas: museu/centro-cultural/shopping/parque-temático, do Beaubourg aos últimos exemplares do Guggenheim, quando as musas foram progressivamente cedendo lugar às massas e os museus a outros espaços, como as grandes lojas de grife – tema do texto “Da alta cultura à alta costura”. Todos esses temas são retomados na conferência final, de 2005, que analisa os efeitos desse <em>cultural turn</em> no “sistema das artes” e seus circuitos, da produção em série às grandes instalações.</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Adorno, Animação Cultural, Autonomia da arte, Arte e Política, Beaubourg, Benjamin, Brecht, Boltanski e Chiapello, Christa Bürger, Contaminações, Curador, Era da Cultura, Era dos Museu, Experiência estética, Gehry, Guggenheim, Guy Débord, Herzog & de Meuron, Hollein, Interdisciplinaridade, J. Rifkin, J.I.Pei, J. P. Jeudy, Jameson, Lévi-Strauss, Lipovetsky, M. Botta, Moda, Museu Lasar Segall, Novos Museus, OMA – Koolhaas, P. Valéry, Paulo Mendes da Rocha, Proust, R. Meyer, Rosalind Krauss, Sistema das artes, Stirling, Thomas Krens, Transculturalismo, G. Vattimo.</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2022-08-172022-08-17Extinção
https://dialetica.emnuvens.com.br/dialetica/catalog/book/143
<p>Os escritos reunidos em <em>Extinção </em>constituem uma crítica radical, sem subterfúgios e sem concessões, “impiedosa” – como a definiu certa vez o jovem Marx – do mundo da cruel “máquina capitalista de moer”, do estado de sítio permanente. Paulo Arantes se define como frankfurtiano de esquerda, (...) poderíamos também defini-lo como <em>marxista ilegal, </em> em oposição aos marxistas legais brasileiros, cuja longa marcha pelas instituições culminou na “fusão da intelectualidade tucana com as altas finanças”. Neste livro ele analisa, como ensina Brecht, não o bom antigo, mas as novidades ruins. Entre estas, elementos que de certa forma dão unidade ao processo imperialista atual: o retorno à Acumulação Primitiva, a reconquista colonial do mundo, a realização das formas supostamente arcaicas de exploração e dominação. Diante do “matadouro das limpezas sociais” que encontramos em um país como o Brasil, como organizar a resistência dos oprimidos? Tarefa mais difícil hoje, quando o partido que supostamente os representava conheceu “a pior das capitulações: sem combate e por adesão prévia ao programa do inimigo”. Este livro, tônico e irônico é um salutar antídoto “idiotia triunfante e bem pensante” do novo Febeapá.</p> <p>(Extraído da orelha de Michel Löwy para a edição da Boitempo)</p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: Acumulação primitiva, Anos Lula, Arturo Ui, Brecht, Capitalismo de acesso, Cultura do excesso, Danilo Zolo, David Harvey, Era tucana, Errol Morris, Estado de sítio, Fukuyama, Guerra cosmopolita, Guerra do Iraque, McNamara, O novo imperialismo, PCC, Trabalho da guerra.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2022-02-062022-02-06Bento Prado Jr.
https://dialetica.emnuvens.com.br/dialetica/catalog/book/145
<p>“pelo âmago de tudo, e no mais fundo<br>decifro o choro pânico do mundo,</p> <p>que se entrelaça no meu próprio choro,<br>e compomos os dois um vasto coro”.</p> <p><strong>Carlos Drummond de Andrade,</strong> <em>Relógio do Rosário</em></p> <p><em> </em></p> <p>Não é novidade que a literatura brasileira foi responsável pela movimentação das grandes ideias nacionais – de algum modo, a ficção era o lugar onde a periferia alcançava o centro. Bem se sabe que <em>alcançar o centro</em> sempre foi uma preocupação da nossa formação, e a literatura, talvez meio desavisada de seu tamanho (talvez por isso mesmo), alcançou o feito que o país buscava. Como nos narra Paulo Arantes (narra mesm, pois se trata de uma prosa íntima entre a filosofia, a literatura e a construção de uma amizade), foi Mário de Andrade quem primeiro alertou que faltava à literatura nacional elaborar ideias, formular enquanto imaginava. Dado o alerta, qual não foi a surpresa de um jovem estudante de filosofia, em 1956, militante da Juventude Comunista, ao se deparar com a poesia de Carlos Drummond de Andrade? E não só com sua poesia mais facilmente palatável a um militante comunista: não foi a “rosa do povo” que provocou Bento Prado, mas sim a rosa outra, a <em>Rosa das Trevas,</em> de seu hermético livro <em>Claro Enigma.</em> Paulo Arantes, nesta conferência de lançamento do livro <em>Ipseitas,</em> de Bento, nos enlaça no clima nacional onde se forjou a formação (em sentido forte, <em>Bildung</em>) do amigo, professor e autor. O cenário era mais ou menos o seguinte: Bento, filho de uma família erudita, entra para a recente Universidade de Filosofia, Ciências e Letras, vindo de uma posição militante ativa, sobretudo antifascista, que se formava entre os intelectuais e jovens de esquerda do país. Grande leitor e admirador da literatura, principalmente da poesia de Drummond, buscava encontrar um caminho para a filosofia que tomasse certo rumo romanesco, onde a <em>poesia do coração se encontraria com a prosa do mundo</em> (Hegel). Segundo Arantes, essa espécie de Hans Castorp, na Montanha Mágica da Vila Buarque, queria alcançar com a filosofia, nada mais, nada menos, que a definição de si mesmo ao se articular com o ser outro. A empreitada era ousada, além de divertida e nada ingênua. Formado em berço drummondiano, importava a Bento Prado Jr. encontrar o <em>sentimento do mundo</em> capaz de dar vida ao <em>engajamento do sonho</em> rousseauniano. Isso, aqui no Brasil, isso, depois do fim do mundo em 1945. Para Paulo Arantes, esse engajamento radical, político e filosófico elaborado por Bento Prado Jr. só pôde brotar de certo sentimento compartilhado entre a literatura brasileira e a transformação da filosofia francesa durante os anos de ocupação nazista. O entrecruzamento de Sartre e Drummond foi possível diante de um engajamento contrário ao horror do mundo, fosse o horror nazista, o norte-americano das bombas ou o soviético. O feito de Bento Prado Jr., para Arantes, foi ser capaz de radicalizar esse <em>engagement</em> da autonomia do pensamento diante da catástrofe histórica. Não é esse também um entrecruzamento entre o coração e o mundo? Fica a pergunta.</p> <p>*</p> <p>Conferência realizada no dia 6 de junho de 2017 no contexto do “Colóquio Bento Prado Jr.: aventuras da filosofia brasileira”, que por sua vez marcou o lançamento do livro póstumo de Bento: <em>Ipseitas</em>.</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Bento Prado Jr.; engajamento; Juventude Comunista; filosofia francesa; filosofia nacional; Antonio Candido; Mário de Andrade; Edmund Husserl; Jean-Paul Sartre; fenomenologia; Jean Jacques Rousseau; ipseitas; Vagner Camilo; Sentimento do Mundo; Claro Enigma; formação; literatura; romance; Hegel</p>Paulo Eduardo Arantes
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2022-02-062022-02-06Cultura y coaliciones de poder y dinero en las nuevas gestiones urbanas
https://dialetica.emnuvens.com.br/dialetica/catalog/book/141
<p>Este volumen contiene una comunicación y dos ensayos de Otilia Arantes, publicados en México y Argentina, respectivamente, sobre conceptos y estrategias de intervención en las ciudades con miras a 'regenerarlas' como 'lugares' debidamente 'animados' por la reactivación de sus centros históricos y valor simbólico, es decir, debido a su "sesgo cultural". Un programa de 'regreso a la ciudad' después de los Modernos que pretendía restaurar a sus poblaciones a una vida pública obstaculizada por los planes regulatorios de la ciudad funcional. El tema central de la ponencia presentada en 1995, en un Coloquio de <em>Arte y Espacio</em> de la UNAM, la Autora cuestiona hasta qué punto tales intervenciones, que pretenden ser conservacionistas y modestas, apuntando a la restauración de lugares llenos de significados colectivos, acaban convirtiéndose en lo que parece su exacto contrario: la causa sorprendente de un urbanismo anárquico de apología de la ciudad caótica, plural, fragmentada, <em>soft</em> etc. donde los conflictos serían escamoteados por una especie de estetización de lo heterogéneo, recubierto por la transformación en escenarios comandados por la lógica de la fascinación<u>.</u> O sea que, el lugar, inviable por las propias condiciones objetivas, materiales, fue convirtiéndose, de a poco, en su opuesto, el <em>no-lugar</em> de los espacios virtuales de una vida pública definitivamente transformada en un repertorio de representaciones simbólicas. El énfasis ya no es predominantemente técnico, como en el período anterior, para recurrir al vasto dominio de <em>paspartú</em> de lo "cultural". Cuando las ciudades empezaron a verse como un repertorio de símbolos, <em>todo se convirtió en cultura</em>. Este es el eje de los dos ensayos que siguen (publicados en 2000 en dos revistas argentinas, <em>Punto de Vista</em> y <em>Block</em>): en un mundo, al mismo tiempo dominado por el mercado, la cultura y el dinero terminan uniéndose: la centralidad de la cultura en el capitalismo avanzado, como enfatiza Fredric Jameson, y, al mismo tiempo, una superposición paradójica entre dos instancias que, en principio, deberían ser antagónicas. Simultáneamente, el proceso inducido de 'gentrificación' adquiere la forma más flexible de algo que se aproxima a lo que los viejos 'propagandistas' de la identidad - referidos en esa comunicación - llegan a defender como atributos fluctuantes, derogaciones, deconstrucciones, derivas. En esta fase (especialmente en la década de los 90), se produce un retorno reactivo a la planificación, pero luego, designada como estratégica, donde la 'racionalidad' pasa a ser principalmente la de la economía, apuntando a la inserción de las ciudades en el circuito global de las grandes empresas, lo que agravará aún más la expansión cultural, que ha prevalecido desde que los gobiernos y los inversores comenzaron a abrir una nueva frontera de acumulación de poder y dinero: el negocio de las imágenes.</p> <p><strong>Palabras clave</strong>: Arquitectura del lugar, Atopia, Barcelona, Berlin, Christopher Lash, City-Marketing, Ciudad-empresa, Ciudades ocasionales, Cultura de imágenes, David Harvey, Desconstrucción, Espacio público, Expo 98, Frank Gehry, Fredric Jameson, Fundación Guggenheim, Gentrificación, Jordi Borja, Manuel Castells, Marc Augé, Megaeventos, Memoria, No-lugares, Olimpíadas, Patrimonio, Peter Hall, Planeamiento estratégico, Potsdamer Platz, Recalificación, Richard Sennet, Sharon Zukin, Venturi, Virilio.</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
Copyright (c) 2021 Otília Beatriz Fiori Arantes
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2021-12-082021-12-08Sale Boulot
https://dialetica.emnuvens.com.br/dialetica/catalog/book/140
<p>Este pequeno livro é uma contribuição para a genealogia contemporânea do que se convencionou chamar trabalho sujo. Mais especificamente, é um comentário da noção de “trabalho do mal” elaborada por assim dizer a quatro mãos por Christophe Dejours e Joseph Torrente a partir de uma visão histórica do Holocausto, baseada na descoberta da experiência coletiva do “trabalho atroz” como chave explicativa da destruição dos judeus na Europa. Em resumo, a revelação de como o horror do Terceiro Reich deriva da imposição do genocídio como um trabalho de massa realizado por uma legião de colaboradores zelosos. Uma hipótese até então adormecida na melhor historiografia que precisou esperar a intensificação do sofrimento social pelo trabalho sujo do neoliberalismo hoje para enfim despertar e sugerir este curto-circuito explosivo num verdadeiro diagnóstico de época.</p> <p>Publicado originalmente em 2011 na revista <em>Tempo Social</em> do departamento de sociologia da USP (v. 23, n. 1) e incluído posteriormente como segundo capítulo do livro <em>O novo tempo do mundo: e outros estudos sobre a era da emergência</em> (Boitempo, 2014).</p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: Christophe Dejours; Joseph Torrente; trabalho sujo; trabalho atroz; zelo; Holocausto; Eichmann; Hannah Arendt; banalidade do mal; zona cinzenta; neoliberalismo; colaboracionismo.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-11-272021-11-27Zero à esquerda
https://dialetica.emnuvens.com.br/dialetica/catalog/book/139
<p><em>Zero à esquerda</em> reúne artigos, entrevistas e intervenções produzidos por Paulo Arantes entre 1997 e 2003. Pensada originalmente como fecho para a coleção homônima dirigida por ele e Iná Camargo Costa na editora Vozes, a obra acabou saindo pela coleção “Baderna”, da editora Conrad, em 2004. Trata-se também da primeira safra de ensaios publicados depois que Arantes se aposentou formalmente na universidade – fato que para Roberto Schwarz marca o início de uma “segunda carreira”, mais incisiva e audaciosa, do autor.</p> <p>O trocadilho do título já indica a posição impertinente que atravessa a obra: uma recusa tanto do baluartismo da boa e velha esquerda quanto do pragmatismo do novo progressismo de resultados. Os artigos de abertura e fechamento do livro dão o tom do impasse histórico contra o qual o autor se debate. Se o primeiro diagnostica o apagão da era tucana e, com ele, o eclipse da tradição crítica brasileira, o último procura dar conta da conversão suicida do recém empossado governo Lula ao fundamentalismo da ortodoxia econômica. Mergulhamos assim num mundo invertido em que o centro cada vez mais parece a periferia, o discurso marxista aparece como instrumento da classe dominante e a ameaça destrutiva à ordem não vem de baixo mas de cima. Levando a sério a constatação de que esquerda já não conta mais com “a bússola das palavras ‘significativas’ que lhe permitiam balizar o caminho da emancipação”, o livro se dedica a repensar do zero (à esquerda) o que significa fazer crítica da ideologia em pleno regime de “pensamento único”. Aliás, emenda o autor, recapitulando as reformulações pelas quais teve que passar o marxismo ocidental para atinar com as singularidades da nossa dinâmica periférica, a um só tempo arcaica e moderna de nascença, recomeçar do zero é conosco mesmo.</p> <p>Diante da hegemonia de um imperialismo de novo tipo, ancorado no solo movediço da emissão do dinheiro mundial, desde 1971 lastreado em nada além do puro poderio militar, os ensaios disparam tanto contra os apologetas da globalização quanto contra o mote da formação nacional incompleta. A aludida ausência de referenciais fixos imposta pelas circunstâncias se faz sentir na vertigem da escrita, que articula questões aparentemente díspares como a brasilianização do mundo, o elo entre experiência intelectual e imaginário nacional, a gramática empresarial das ONGs, a atualidade do <em>Manifesto Comunista</em> e de maio de 1968, a recepção brasileira da obra de Marcuse, o sentido dos termos utopia e revolução hoje, a estetização do dinheiro, a espetacularização da instituição artística e a “individualidade sitiada” do sujeito-consumidor no capitalismo de imagens. Na filigrana, vai sendo atualizado para o capitalismo do século XXI o diagnóstico frankfurtiano de uma sociedade sem oposição em que a “realidade converte-se em ideologia de si mesma”. Afinal, o que resta para a esquerda uma vez que o desenvolvimento das forças produtivas engoliu, junto com a sociedade do trabalho, o próprio horizonte evolutivo que animava não só o positivismo dos liberais como a dinâmica de luta de seus antagonistas socialistas? A resposta, é claro, fica por conta do leitor.</p> <p>(Resenha de Artur Renzo)</p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: brasilianização; globalização; comunidades imaginadas; nacionalismo; nação; Benedict Anderson; Herbert Marcuse; Jürgen Habermas; Ernst Bloch; Robert Kurz; Slavoj Žižek; 1968; FHC; Lula; arte contemporânea; ONG; Banco Mundial; sociedade do risco; utopia; revolução; crítica da ideologia; fetichismo; imperialismo; Tradição Crítica; pensamento único; pensamento paulista; utopia; revolução.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-11-152021-11-151964: um país feito num só golpe
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<p>Em <em>1964: um país feito num só golpe</em>, Paulo Arantes retoma alguns argumentos centrais de seu texto sobre o período para indagar, à luz de 2014, os objetivos do golpe militar de 64. Direto ao ponto, Arantes sustenta que um dos objetivos do golpe seria extinguir da memória nacional a ideia de que por aqui já houve inconformismo político, não um inconformismo qualquer, mas aquele que mobiliza as pessoas comuns para o desejo de se organizar politicamente. Não se tratava, portanto, de interromper uma revolução em curso, mas de extirpar pela raiz a movimentação do <em>povo, incontrolável e ameaçador. </em>Pautado na definição nada ortodoxa de Greg Grandin, Arantes defende que a política é <em>uma dimensão de encaminhamento das expectativas humanas</em>, algo como uma dissonância entre a realidade e as ideias que mobilizam uma época, como se na base da utopia estivesse um espírito messiânico da transformação, capaz de atingir a todos. Eis que por aqui a contrarrevolução veio antes da revolução. Para Arantes, o golpe veio à América do Sul com intuito de arrumar a casa, antes que essa tivesse base suficiente para a insurgência popular. O mérito do golpe, então, cumprido com eficiência ao toque do terror completo, foi manter o horizonte de expectativas numa espécie de reconciliação democrática com o progresso (<em>utopia negativa)</em>. Sem política, sem golpe. Nas bases da mediação e do equilíbrio, o que restou de 1964 para o Brasil foi defender, civilizadamente, a parte que lhe cabe do latifúndio global, digo, restou ao subdesenvolvimento manter-se atado ao subcapitalismo, dando razão à formulação de FHC, quando este ainda era apenas um sociólogo. Socialismo fora do jogo, ao Brasil sobrou uma democracia de baixa intensidade. Algo como afirmar que só sofremos o golpe porque não defendemos a democracia o suficiente, com o golpe ficamos diante da fratura brasileira da barganha política do pós-guerra: se a revolução não vier, o <em>welfare state </em>está mantido, do contrário, é guerra. Guerra, aliás, com Bomba Atômica e ameaça latente de destruição mútua. Passados cinquenta anos de golpe, a política de transição segue incompleta, talvez porque a democracia de baixa intensidade que nos foi entregue não seja uma vitória à esquerda, mas uma missão cumprida com sucesso pelos militares. Mas é também nesta data redonda, com meio século de distância, em que algo fora das instituições democráticas volta a chacoalhar a política no Brasil: junho de 2013 marca o fim de uma era apaziguada e as expectativas humanas são novamente mobilizadas para algo. Para o quê ainda não se sabe, se a direita saiu à frente na luta contra a institucionalização da política, há também uma massa de trabalhadores precários, entre motoboys e atendentes de call center, que flertam com o desemprego, bem como com a fúria pela sobrevivência.</p> <p>Conferência e debate de lançamento de "O novo tempo do mundo", com Paulo Arantes no Espaço Cultural Latino Americano (ECLA). Realizado no dia 15/05/2014, o evento integrou o ciclo "A ditadura que não passa" do seminário Labirintos e trincheiras promovido pelo coletivo Zagaia.</p> <p>(Resenha de Nathalia Colli)</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Golpe; 1964; Militares; Democracia; Marighela; Política de Transição; Comissão da Verdade; Guerra - fria; Junho de 2013; FHC; Diretas Já; Ameaça atômica; Prazo; Expectativa, Política; América do Sul; Guatemala; Greg Grandin; Socialismo; Democrático Popular; Populismo; Trabalhismo; Assalariamento; Entregadores; Call Center; Desemprego.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-10-172021-10-17Esquema de Lucio Costa
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<p>En este ensayo - escrito especialmente para el Revista <em>Block</em>, de la Universidad Torcuato Di Tella, Buenos Aires, 1999 (reproducido parcialmente, tres años después, en el periódico <em>Folha de São Paulo</em>, ver facsímil en este sitio, “Resumo de Lucio Costa”) -, Otilia Arantes retoma y desarrolla el argumento principal de otro texto, publicado en la propia <em>Folha</em>, el 12 de abril de 1996, en una reseña del libro <em>Registro de uma vivência</em>, reproducido, con algunas modificaciones, en <em>Sentido da Formação</em> (Paz e Terra, 1997, pág. también reproducido en este sitio). Es preciso señalar que Lucio habría contado la historia de la arquitectura brasileña desde el punto de vista de una arquitectura ya "formada" y que "funcionó", en el sentido de haber sido completada en un breve período de tiempo, que va desde el Ministerio de Educación hasta los edificios de Pampulha o hasta el Pabellón de Exposiciones de Nueva York, aunque la meta será Brasilia. Desde las manifestaciones individuales hasta el sistema, menos de dos décadas: un aparato realmente impresionante, especialmente por la experiencia técnica demostrada. Un “Milagro” que dejaría perplejos a los críticos extranjeros. La formación como parte del sistema cultural brasileño, tal como la utilizan Antonio Candido en <em>Formação da Literatura Brasileira</em> (y Caio Prado y Celso Furtado en <em>Formação Econômica), s</em>e trata, por tanto, de la formación nacional, en el marco de la herencia colonial siempre presente que hay que superar. Al mismo tiempo, como país dependiente, la afluencia externa sigue siendo preponderante, de tal manera que su actualización también revela el desajuste en su origen. Desajuste histórico, que en la Arquitectura brasileña se traduciría en un cierto formalismo, cuyo sesgo estetizador terminaría, paradójicamente, revelando en la periferia la verdad en la matriz de la Arquitectura Moderna, su falso fondo por así decirlo. Como puede verse, Lucio Costa, historiador y gran protagonista de esta historia, es quizás quien mejor resume las contradicciones e ilusiones del propio Proyecto Moderno. Al mismo tiempo, su trayectoria y la interpretación que realiza la autora es la clave principal de la lectura que hace del Movimiento Moderno.</p> <p><strong>Palabras clave:</strong> Lucio Costa, Oscar Niemeyer, Le Corbusier, Escuela Nacional de Bellas Artes, Arquitectura Moderna, Arquitectura Brasileña, Brasilia, Historia de la Arquitectura, Mário Pedrosa, Antonio Candido, Formación.</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2021-10-142021-10-14The Neo-Enlightenment Aesthetics of Jürgen Habermas
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<p>This essay was prepared especially for the issue 49 of <em>Cultural Critique</em> (2001) as an extract of the argument presented in Otília and Paulo Arantes’ book <em>Um Ponto Cego no Projeto Moderno de Jürgen Habermas </em>(A blind spot in Jürgen Habermas’ Modern Project, 1992) (which remain untranslated into English). While Habermas has seldom addressed the question of aesthetic directly, here the authors reconstruct why architecture becomes the aesthetic site of predilection for him. What the authors call a “neo-Enlightenment aesthetics” in Habermas involves a reconfiguration of the judgement of taste, as conceived in the Enlightenment, but now projected through the lens of communicative action where the rules of engagement have left the spectacle behind. A Kantian aesthetic with airs of Benjamin and Brecht, they contend, became the ingredients which Habermas tried to get beyond the impasse that Peter Bürger had already pointed out with regard to idealist aesthetics, namely how the process of the autonomization of art is simultaneously a process both of its consolidation and its eventual demise. How then to talk about aesthetics after Avant-Garde? For Habermas, architecture becomes a place of encounter for his own ideas about the public sphere, rational engagement, and aesthetic judgement.</p> <p>The Arantes, however, contest Habermas’ abstract defense of Modern Architecture by showing how, in the word and specially in Brazil, each phase of its development is intimately tied to specific moments in capitalism development. They follow in Adorno’s footsteps in arguing that the site of Modern Architecture in Brazil is a cipher of glass and concrete that evinces the silence of the spellbound rather than the emergence of a public genre with enlightenment functions.</p> <p>(Excerpt from the Introduction by Silvia López, Guest editor of <em>Cultural Critique </em>n. 49)</p> <p> </p> <p><strong>Keywords:</strong> Habermas, Modernity, Modern Design, Modern Movement, Postmodernism, Ideology, History, Benjamin, Utopia, Communicative Action, Linguistic Turn, Enlightenment, Reason, Critical Theory, Welfare, Brazil.</p>Otília Beatriz Fiori ArantesPaulo Eduardo Arantes
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2021-10-122021-10-12De "Opinião 65" à 18a Bienal
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<p>Publicado em 1986, este ensaio de Otília Arantes propõe uma revisão crítica das Artes Plásticas nos 20 anos de Ditadura, da mostra Opinião 1965, que se pretendia explicitamente de resistência, à Bienal de 1985, cuja marca era dada pelo grande corredor dedicado à pintura autodenominada neoexpressionista, do qual participavam, lado a lado, pintores estrangeiros e nacionais. Se, nas mostras da década de 60, as obras nelas expostas, vinham acompanhadas de manifestos neovanguardistas e negava qualquer identificação com a arte internacional — mesmo com o <em>pop</em> americano, cuja proximidade formal era inegável, mas que, entre nós, à diferença da matriz, teria adotado um tom francamente disruptivo e de protesto —, na 18ª Bienal, ao contrário, o que se via era a adesão sem restrições à internacionalização da nossa pintura. Perdia-se assim, na enfática advertência da Autora, a memória da “matéria brasileira”, ainda que o expressionismo tenha sido talvez a pintura mais adequada à nossa Modernidade, ao menos na visão de Mário de Andrade. Ora, esses novos expressionistas procuravam justamente se desfiliar daquela pintura modernista, também exposta nessa Bienal, vista por eles como um “subcubismo”, abrindo mão de nossa arte próxima ou distante para buscar inspiração diretamente nos grandes nomes estrangeiros. Surto internacionalista que talvez se possa explicar, retrospectivamente, como estando em sintonia com a ilusão do momento: de que o Brasil finalmente acertava o passo com o mundo desenvolvido. A parte mais alentada do ensaio, no entanto, é relativa às nossas artes plásticas no período que vai do Golpe ao AI-5, quando os artistas ainda tinham espaço para um certo “exercício da liberdade”, na expressão de Mário Pedrosa, e pretendiam, ao fazer arte, estar fazendo política. Esse esforço de guerra ao <em>status quo</em> é reconstituído pela Autora tendo como referência principal a figura de Hélio Oiticica e o surgimento do Tropicalismo, com todas as suas “ambivalências” – como a entendia e pregava Oiticica: combinando à violência predatória, em relação aos valores consagrados e à consciência do subdesenvolvimento, um forte <em>élan</em> construtivo. Um passado devorado antropofagicamente de forma a nos projetar para o futuro, fechado contudo, pelo menos provisoriamente, a partir de 1970. A volta à figuração, ao cavalete, à pintura bem-comportada, mas também a representação crítica, ou “não-representação”, sempre mais indireta, das manifestações artística do período, são repertoriadas pela Autora para finalmente chegar à revanche dos jovens nos anos 80, concluindo este esforço de revisão em tom empenhado de quase manifesto.</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> 18ª Bienal, Casa7, Galeria Rex, Gerchman, Gregório Gruber, Hélio Oitica, José Resende, Lygia Clark, Mário Pedrosa, Neoexpressinimo, Neovanguarda, Nova objetividade, Opinião 65, Revista Malasartes, Roberto Schwarz, Sérgio Ferro, Tropicália.</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2021-10-122021-10-12A atualidade do pensamento de Roberto Schwarz
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<p>“Trata-se apenas de um crítico literário”, esta observação é repetida várias vezes ao longo da fala de Paulo Arantes, observação, aliás, nada ingênua e que coloca o público para pensar nos motivos que o levam a se reunir em torno da figura simples e desajustada de um crítico literário da periferia. Isto porque, ao relembrar a obra de Roberto Schwarz para averiguar a atualidade de seu pensamento, Arantes retoma ao centro de sua fala o papel duplo do crítico na história brasileira. Roberto Schwarz pertence a tradição crítica que ganhou corpo local nos anos em que a ideia de <em>formação</em> era uma obsessão nacional. Herdeiro, portanto, de certa postura que remonta a figura de Joaquim Nabuco em sua radicalidade temporária em plena escravidão. O surto de “radicalismo” que acomete e forma essa tradição crítica é descrito por Paulo Arantes como parte dos movimentos ascensionais da socialização brasileira capitalista, que visava a construção nacional e a superação mínima do subdesenvolvimento, enquanto críticos ocupados em pensar a sério soluções nacionais dentro da ordem econômica vigente, como se essa fosse nossa única chance. Crítica afirmativa, portanto, que contava com um horizonte de expectativa sempre inflado pela promessa civilizatória. Tudo medido, para Arantes, é a partir da leitura de Antonio Candido, em sua <em>Dialética da malandragem</em>, que Schwarz é posto diante do negativo nacional que revelaria certo ordenamento mundial, de modo que a balança entre a ordem e a desordem, vista na literatura de Manoel Antonio de Almeida, descortinasse para o jovem crítico literário a possível intervenção brasileira em um capítulo internacional. Schwarz que começou sua trajetória fazendo crítica imanente (de fôlego, bom que se diga), ignorando a princípio a matéria local, porém inspirado no que havia de melhor no marxismo Europeu, descobre o negativo da sociedade brasileira e passa a escrever como quem entrega ao capitalismo sua verdade autodestrutiva. Como se Roberto Schwarz estivesse sim amparado por um longo percurso de mediações, mas dá através de seus textos o passo político necessário à crítica: sua radicalidade é a não conciliação. O simples crítico literário, de repente, é o autor da análise de conjuntura mais contundente da ditadura militar, longe da economia, longe da sociologia. <em>Cultura e Política</em> 1964 - 1969 revela ao leitor um processo em curso, que corre às margens do comunismo de caserna do PCB, bem como ao largo das expectativas desenvolvimentistas. Foi também o crítico literário quem ressaltou a luta armada como um dos horizontes possíveis para o Brasil daquela época. A tradição inaugurada por Schwarz é então outra, é do crítico literário de intervenção, capaz de sintetizar alguns pontos de virada entre a imaginação e a sociedade. Por isso, também foi possível a ele destacar <em>Estorvo, </em>de Chico Buarque, como o sismógrafo de uma era de gangsterização e colapso do ideal modernizador. Ele também anunciou um <em>Fim de Século</em> calamitoso que foi recebido como exagero de um marxista catastrofista e que agora se faz sentir por todos, diariamente, no próprio ar que se respira.</p> <p>Roberto Schwarz, ao lado de Antonio Candido, é sem dúvida um dos maiores críticos literários da atualidade. Nesse encontro realizado na Unifesp-Guarulhos em 2017 e organizado por estudantes, temos uma análise do pensamento e importância de Roberto Schwarz nos dias de hoje feita pelos professores Leandro Pasini e Paulo Arantes, com mediação de Sílvio Rosa Filho. Organizadores: Leonardo Sandrin Botelho e Cesar Marins com o apoio do grupo Teoria crítica brasileira -EFLCH</p> <p>(Resenha de Nathalia Colli)</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Roberto Schwarz, Antonio Candido, Modernização, Radicalismo, Joaquim Nabuco, Luta Armada, Ditadura Militar, Teoria Crítica, Crítica Literária, Cultura e Política, Dialética da Malandragem, Formação, Caio Prado Jr, Antonio Calado, Lulismo, Colonialismo, Collor, Imperialismo, Militarização, Estorvo, Fim de Século.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-10-032021-10-03Ruínas do futuro
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<p>Os dois ensaios que compõem este e-book, “Ruinas do Futuro” e “A era das formas urbanas extremas”, foram redigidos a rigor em continuidade. O primeiro, uma reflexão introdutória ao livro <em>Chai-na — </em>estudo de caso da China como máquina acelerada de crescimento urbano, alavancado pela Olímpiada de 2008. O segundo, uma conferência no ENANPARQ de 2012, tira consequências do que foi esboçado na segunda parte daquele livro, acerca das hiper- ou trans- urbanizações nas grandes cidades (ou aglomerações) asiáticas e africanas, e identifica o contraponto obsceno representado pela proliferação do que Mike Davis e Daniel Monk chamaram de "paraísos do mal". Ambos estudos se completam para fornecer um panorama não só dos contrastes monstruosos que definem o mundo contemporâneo, mas o cenário original do que viria ser chamado de “urbanismo militar” (tempo de cidades sitiadas, escaneadas, de populações-alvo rastreadas, vigiadas, preventivamente contidas e abordadas segundo perfis de risco).</p> <p>Abrindo o volume, Otília Arantes, para analisar a China e sua fantasia megalômana de um futuro que se quer infinito, foi buscar no passado as aspirações coletivas, de realização ou superação, que animaram a história da moderna sociedade capitalista, os <em>dreamworlds</em> que embalaram os devaneios de prosperidade das populações a leste e oeste da divisão entre os dois grandes blocos da guerra fria. Quando despertaram desse sonho utópico de produção e consumo de massa, tais populações se depararam com a dura realidade: de um lado, a gigantesca expansão do “planeta favela” fechando a fronteira urbana, de outro, o recobrimento de suas contradições pelas “follies” do Star System arquitetônico. A evocação de Benjamin, neste primeiro ensaio, está diretamente vinculada à constatação do fenômeno que, no geral, acompanha estes grandes acontecimentos de massa: o sonho coletivo de bem aventurança, felicidade e poder. Desde o século XIX, esta colonização dos sonhos foi um dado que Benjamin, por mais que apostasse num despertar para a revolução, não ignorava. Hoje, segundo a Autora, a crença de que a remodelagem do mundo pela industrialização-urbanização levaria as massas ao paraíso teria ruído. Duas formas de “mundo de sonho”, comparadas no momento mesmo de um falso despertar, como mostram os dois ensaios, o segundo, tendo como principal referência cidades do chamado terceiro mundo.</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>China, Dreamworld, Hiperespacialidade, Hiperurbanização, Lagos, Luna Park, Mike Davis, Moscou, Mundos de Sonhos, New York delirante, Paraísos do Mal, Paris, capital do século XIX, Perestroika, Planeta Favela, Rem Kolhaas, Rockfeller Center, Ruinas do futuro, Sonho americano, Star system da arquitetura, Steven Graham, Susan Buck-Morse, Susan Sontag, <em>Skyscraper</em>, Transurbanização, Urbanismo militar, Walter Benjamin</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2021-10-032021-10-03Entre os destroços do presente
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<p>Refletindo no olho do furacão daquela que é possivelmente a “mais grave crise da nossa história nacional”, Paulo Arantes tateia os escombros de uma “tempestade perfeita” na tentativa de atinar com as coisas novas e ruins do novo tempo brasileiro. Mais do que jogar luz sobre os argumentos desenvolvidos em <em>O novo tempo do mundo</em>, que acabara de ser lançado, estas quatro entrevistas (e meia) realizadas entre 2014 e 2015 colocam em movimento as categorias e os motes do livro para fechar um diagnóstico de todo um ciclo desmoronando em tempo real. Na contramão do bom e velho progressismo do qual a esquerda tornou-se quase indistinguível, ele insiste que o que se desfazia naquele momento decisivo não era um horizonte em expansão mas, o que ocorria de fato, era a confirmação agravada de um brutal estreitamento de expectativas que vinha se aprofundando nas últimas décadas. É que a derrocada de nosso meio século de modernização desenvolvimentista e o ingresso na nova era mundial de expectativas decrescentes coincidiu, para nós, com a euforia do processo de saída da Ditadura. Vistas dessa perspectiva, as duas décadas de governos tucanos e petistas só poderiam ser lidas mesmo em bloco, como parte de uma mesma engenhoca de estancamento emergencial da desintegração social. Sem deixar de notar, entre outras coisas, o fato no mínimo curioso de que o neoliberalismo aqui é uma invenção de esquerda, Arantes não perde de vista o disparate maior de que, nesse regime presentista de horizontes rebaixados, política passa a ser sinônimo de mera gestão – no caso, da barbárie. Por isso, não é de se espantar que foi na <em>antipolítica</em> que eclodiu nas ruas de Junho de 2013 que reapareceu aquela dimensão essencial de encaminhamento de expectativas humanas. Aliás, lembra Paulo, é essa também a chave para compreender a novidade da direita insurgente que não por acaso começa a mostrar os dentes aqui.</p> <p>(Resenha de Artur Renzo)</p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: impeachment; Dilma Rousseff; Lula; petismo; Partido dos Trabalhadores (PT); PSDB; PSOL; Direitos Humanos; Junho de 2013; nova direita; presentismo; Novo Tempo do Mundo; expectativas decrescentes; punitivismo; gestão; Copa do Mundo; Wolfgang Streeck; Loïc Wacquant; crise; espera; tempo; política; Ditadura; Golpe; 1964; desenvolvimentismo; progressismo; polarização; guerras culturais</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-09-222021-09-22O que 68 tem a dizer sobre nós?
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<p>Em <em>O que 68 tem a dizer sobre nós?, </em>Paulo Arantes dá início à conversa invertendo a preposição, não se trata do que 1968 diz sobre nós, mas, sobretudo, para nós, no Brasil de 2018. Partindo do 68 Europeu, Arantes analisa três conjunturas distintas para viabilizar a discussão, a saber, o maio Francês e suas consequências imediatas; o chamado Anos de Chumbo na Itália e, por fim, o encontro tardio entre a juventude alemã e o pensamento da Escola de Frankfurt. O mote da análise não está tanto nas movimentações aguerridas da época, mas em certo espectro do passado onde os levantes pareciam buscar escopo. A França desfrutava de promissora tranquilidade e avanço nos direitos trabalhistas desde o pós guerra, o <em>welfare</em> <em>state</em> parecia ter afastado o monstro fascista para longe, reconstruindo desde então o potencial civilizador do capitalismo. Em trinta anos de crescimento e pacificação capitalista (essa possível apenas pela retaguarda da bomba atômica), o antifascismo dos aliados foi engavetado, dando como página virada da história o tempo do horror. Os blocos rígidos, divididos pela guerra fria, tratavam de administrar e salvaguardar o bem estar social de suas populações, garantindo a normalidade. O ponto de virada, portanto, parece ocorrer quando a tranquilidade material do centro europeu deixa de garantir o contentamento da sociedade diante da vida: algo como um novo tédio contra o <em>establishment</em> sacode o chão francês. Diante da tentativa de “ataque aos céus”, a repressão recrudesceu, fazendo surgir dali um novo sinal de alerta contra o falecido: a repressão é o fascismo! A paz liberal acabou militarmente com o fascismo, mas não com suas raízes. A movimentação autônoma, por fora das organizações burocráticas stalinistas, passam a preocupar novamente os donos do poder, colocando na ordem do dia a discussão sobre o antifascismo. Embora a ideia do fascismo tenha se tornado um jargão comunista, algo como um excesso retórico durante o pós-guerra, alguns sismógrafos artísticos (entre eles Bergmann, Bertolucci e Visconti) apontavam na virada dos anos 60 para os 70 os perigos da paz social militarizada. Na Itália, em resposta à sua modernização tardia e relâmpago, algo anômalo brota do desenvolvimentismo: uma espécie de transgressão de extrema direita, sustentada pela máfia e por poderes paramilitares, se junta à democracia cristã para fazer vingar em território atrasado a sociedade de consumo. Uma junção entre capitalismo de gestão, exclusão, militarismo e gangsters. Arantes chama atenção ao termo de Pasolini para definir o período italiano: trata-se, para o cineasta e ensaísta, de uma mutação antropológica, que passa a ordenar um <em>novo fascismo.</em> O que é sustentado, também, pela redescoberta alemã dos textos radicais de Adorno, Horkheimer e Marcuse, que já apontavam antes do fim da guerra à impossibilidade de expulsar o fascismo do mundo, como se ele fosse sempre a saída última para o esgotamento da burguesia. O esgotamento político do início do século XX, resolvido pela brutal gestão modernizadora fascista, agora encontrou um novo teto: o colapso econômico e ambiental do capitalismo o encaminha para um novo período de extinções, como se um novo corvo ecoasse que não há solução para uma civilização que já se autodestruiu.</p> <p>Palestra de encerramento do simpósio “O que 68 tem a dizer sobre nós?” pelo Prof. Paulo Eduardo Arantes, em 30/11/2018 - Prédio de Letras - FFLCH - USP</p> <p>(Resenha de Nathalia Colli)</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Maio de 68; Fascismo; Antifascismo; Adorno; Marcuse; Horkheimer, Welfare State; pós-guerra; Pasolini; Berlusconi; Máfia; Itália; Alemanha; Autonomismo; Consumo; Extinção; Crise ambiental; Crise econômica; Modernização; Brasil, 2018; Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial; Bomba atômica. </p> <p> </p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-09-142021-09-14Horizontes brasileiros: de qual estamos falando?
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<p>Paulo Arantes, a convite da Casa de Cultura do Parque, fora provocado a discutir sobre os “horizontes brasileiros”, tema complexo que exigiu um debate mais detido: Afinal, sobre “qual horizonte estamos falando?”, indaga o expositor. Paulo reconstrói o conceito de horizonte, perpassando por nomes centrais da sociologia, história e filosofia ocidental, entre eles: Kant, Husserl, Ernst Bloch, Gadamer, Koselleck, Benedict Anderson e outros. Sua intenção foi a de reconectar a palavra ao seu sentido histórico-político, demonstrando sua força simbólica e seus diversos sentidos, sensíveis às clivagens de classe constitutivas da realidade social brasileira. Ou seja, não há horizonte (de expectativas) e projetos de país que não sejam demarcados pela posição social que grupos e instituições ocupam no cenário nacional. Neste sentido, dois campos sociais se confrontam. Visto de cima, o horizonte brasileiro orientado para o futuro se apresenta como um projeto de construção nacional, a famosa passagem da Colônia à Nação. Visto de baixo, é experimentado pelas classes despossuídas como o horizonte sem luz de um povo embrutecido pela opressão e destinado a perecer nas trevas, conforme se lê num manifesto de operárias-costureiras em greve. Embora antagônicas e díspares, é feita de expectativas, invariavelmente condenadas à frustração pela sua condição periférica, a matéria prima da energia política que move as duas esferas em permanente colisão.</p> <p>Há, porém, uma zona de contato entre ambas, operada por uma certa classe média, cujo radicalismo, ora de ocasião, ora sistemático, Antonio Candido estudou. Daí o fenômeno inusitado, e que ocupará boa parte da exposição, representada por uma franja esclarecida no topo da horrível pirâmide social brasileira. Nesse momento, Paulo Arantes abre um parêntese para um inusual estudo de caso, na figura do que chamou “pensamento Piauí”, em cujo epicentro localiza e analisa um diagnóstico de época formulado pelo cineasta e ensaísta João Moreira Salles a certa altura, no ano de 2007, acerca justamente de um encurtamento do horizonte nacional e do rebaixamento das ambições do país, que a seu ver se tornaram medíocres, em contraste com os supostos anos dourados da década desenvolvimentista. Juízo paradoxal, pois naquela quadra a grande mídia internacional anunciava e celebrava o <em>taking off </em>do país do pré-sal e da nova classe C empreendedora.</p> <p>Passando ao polo oposto, dos desclassificados, cuja alienação violenta remonta à herança colonial, Arantes evocará, através de um rápido sobrevoo pela Tradição Crítica brasileira, as sementes de utopia plantadas em seu solo pela presença intermitente das promessas e frustrações de uma sociedade do trabalho que nunca se completa.</p> <p>Ao longo de toda a exposição paira a redescoberta dolorosa, propiciada pela explosão brutal do bolsonarismo, do estado de guerra permanente que vem a ser, e sempre foi, a vida social no capitalismo. Daí a inesperada e paradoxal apreciação do renascimento do sentimento antifascista em alguns setores esclarecidos da burguesia brasileira, mesmo na hora de sua dominação sem limites.</p> <p>(Resenha de Rafael Cosentino)</p> <p> </p> <p><strong>Palavras- Chave: </strong>Antonio Candido<strong>, </strong>Benedict Anderson, Classes sociais, Ernst Bloch, Escravidão<strong>, </strong>Gadamer, Guerra Permanente, Horizontes de expectativas, Husserl, João Moreira Salles, Kant, Koselleck, Nação, Nacionalidade, “Pensamento Piauí”, Projeto de país, Revolução, Simone Weil, Trabalho, Utopia, Violência estrutural.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-08-312021-08-31Sentido da formação
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<p>O conceito de formação já foi “uma verdadeira obsessão nacional", como nos é explicado logo no início de <em>O sentido da formação</em>. Dos anos 1930 aos 50, a sociedade brasileira e suas estruturas foram dissecadas em termos histórico-econômicos, antropológicos e estéticos por intelectuais que, cada qual a sua maneira, procuraram estabelecer e dar sentido a uma situação nacional periférica, deslocada e, por isso mesmo, diferente. Assim, a <em>Formação do Brasil contemporâneo</em> (Caio Prado Jr.) pela primeira vez traçava em termos marxistas consequentes a estrutura social legada pela colonização; a <em>Formação econômica do Brasil</em> (Celso Furtado) explica os sentidos do atraso e os impasses do subdesenvolvimento; a <em>Formação do patronato político brasileiro</em> (Raymundo Faoro) revela os estamentos nos quais se assentavam nossas elites políticas. Foi em 1959, alguns anos antes do golpe de 1964 dar o ar de sua terrível graça, que Antonio Candido tratou de reunir essa experiência intelectual acumulada nas ciências sociais e no ensaísmo brasileiro (com o olho também nas obras precursoras de Gilberto Freyre e Sérgio Buarque) publicando sua <em>Formação da literatura brasileira</em>, que trazia para o campo da análise cultural aquelas mesmas preocupações e inaugurava a tradição crítica a qual o livro de Otília e Paulo Arantes retoma e investiga os pressupostos.</p> <p>De Antonio Candido a Roberto Schwarz, <em>formação </em>significou um salto notável na compreensão cultural e política do Brasil, enfatizando a necessidade de analisar como entre nós se dá o processo de formalização estética de uma experiência histórica determinada. Foi dentro dessa nova tradição, contemporânea das conquistas especulativas já devidamente estabilizadas, do Modernismo, da imagem subversiva do Cinema Novo, do debate sobre os significados da abstração nas artes plástica e das ousadias da Nova Arquitetura, que redefiniu-se também, por força do salto a ser empreendido, a tarefa do crítico pautado pelo ideário, agora podemos dizer, dialético, do conceito de formação: compreender as vicissitudes da experiência cultural na periferia do capitalismo transcendendo a análise especializada (sem dela prescindir) visando respeitar a relativa independência do objeto, colhendo os saberes dispersos e fraturados nas esferas das humanidades, na cena contemporânea.</p> <p>Pois é dentro dessa tradição e desses pressupostos que o leitor encontrará <em>O sentido da formação</em>, estudo que analisa a figuração da experiência cultural brasileira em três esferas (literatura, pintura, arquitetura) abordando aspectos desses movimentos artísticos, do século XIX ao XX, bem como as posturas e inflexões de seus primeiros grandes críticos: Antonio Candido, Gilda de Mello e Souza e Lúcio Costa. Nesse livro os autores acompanham, dentro da mais criteriosa leitura de obras, a maneira com que nossos melhores críticos, bem como nossos melhores artistas, vão criando formas de superar um certo estado de dependência, procurando estabelecer, a partir dos exemplos históricos anteriores, uma linha evolutiva que esclarece os dinamismos específicos da vida cultural brasileira, que aqui, vez por outra, aparece definida como diferença brasileira. Afinal de contas, é disso mesmo que esse livro trata, da “figuração paulatina de uma sociedade deprimida pela própria imagem”, uma sociedade onde, ontem como hoje, letra, figura, fundo, plano e monumento estão à procura de um país.</p> <p>(Orelha de Francisco Alambert)</p> <p>Esta edição virtual de <em>Sentido da Formação</em>, reproduz parcialmente a da Paz e Terra de 1997. Os ensaios sobre Antonio Candido e Lucio Costa são mantidos na íntegra, o ensaio a quatro mãos, sobre Gilda de Mello e Souza teve os apêndices suprimidos (estão incluídos no livro dedicado a Gilda publicado nesta coleção). Foi acrescentado ao final a entrevista com Ricardo Musse sobre o livro, publicada na Revista <em>Praga</em>, nº 4, 1997. </p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave:</strong></p> <p>Formação, Realidade Nacional, Ilustração brasileira, Grupo Clima, Antonio Candido, José Veríssimo, Eliot, Lúcia Miguel Pereira, Sílvio Romero, Gilda de Mello Souza, Lucio Costa, Pintura brasileira, Almeida Jr, Mário de Andrade, Roberto Schwarz, Arquitetura Moderna Brasileira, Oscar Niemeyer, Brasília.</p>Otília Beatriz Fiori ArantesPaulo Eduardo Arantes
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2021-08-152021-08-15Sentimento da dialética na experiência intelectual brasileira
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<p>Quais os pressupostos de uma crítica literária verdadeiramente dialética? Esta a questão que Paulo Arantes busca responder neste livro, publicado em 1992, que analisa a obra de dois dos mais importantes críticos brasileiros: Antonio Candido e Roberto Schwarz. O interesse ultrapassa de muito o âmbito literário. O autor contextualiza o ensaísmo de ambos, discute as teorias explicativas da realidade brasileira que se desenvolviam paralelamente a ele e mostra como, em suas obras mais características, Antonio Candido e Roberto Schwarz atinaram com uma homologia estrutural entre a obra literária e a organização social cheia de consequências para o estuda da cultura de um país periférico. Como escreve o autor: “pela primeira vez a crítica da cultura, instruída pela revisão das implicações de uma sociedade dual, examinava no seu conjunto os efeitos artístico-ideológicos do desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo”.</p> <p>Bento Prado Jr., em resenha, publicada aqui como posfácio, afirma que “com <em>Sentimento da Dialética</em>, de Paulo Arantes, não ganhamos apenas um grande acerto na reflexão sobre a historiografia literária no Brasil. Muito mais do que isso (que não é pouco) é a própria filosofia brasileira que sai dos limites estreitos de seus seminários mais ou menos ‘técnicos’ (pois ignora-se, normalmente, que a essência das ‘técnicas’ filosóficas jamais é, ela própria, técnica), para mergulhar na ‘experiência’ e no próprio Brasil”.</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Antonio Candido, Roberto Schwarz, formação, dialética, dualidade, dualismo, marxismo, literatura brasileira, crítica literária, Brasil, consciência nacional, sistema colonial, escravidão, malandragem, Crítica da cultura, subdesenvolvimento, dependência, periferia, Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Maria Sylvia de Carvalho Franco, Caio Prado Jr., Florestan Fernandes, Fernando Novais, USP, uspiano. </p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-07-292021-07-29A desconstrução que estamos vivendo
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<p>Desconstrução é palavra-chave para desvendar a originalidade substancial do presente momento brasileiro e mundial. É esta a aposta de Paulo Arantes ao refazer o itinerário da “ideologia francesa” a fim de investigar por que a terminologia desconstrutivista tem pipocado no discurso e na prática de figuras da nova direita como Steve Bannon e Jair Bolsonaro. Sempre atento à perspectiva da periferia e à articulação histórica entre processo material e discurso filosófico, ele lembra que no Brasil já somos pioneiros de uma “desconstrução realmente existente” – ao menos segundo a <em>boutade </em>de Roberto Schwarz, que ao comentar o desembarque do desconstrucionismo literário entre nós, sublinhou a ironia de que era a própria matéria histórica da periferia em desintegração social que parecia imitar o novo jargão filosófico. Eis o pano de fundo para historiar como o <em>frisson </em>apocalíptico original da chamada “virada linguística”, com sua ruptura radical com o referente, foi gradualmente se cristalizando em torno de certos fundamentos “indesconstrutíveis” até se ancorar em identidades vitimizadas cuja reparação deve ser administrada politicamente. Terminado esse percurso paradoxal da “ideologia francesa”, fica evidente a novidade da encrenca que enfrentamos: se, no plano da teoria crítica, “desconstrução” vai desaguar em política de defesa dos Direitos Humanos, Justiça Social e governamentalidade progressista, seu viés apocalíptico inicial agora reaparece na intransigência aceleracionista do ataque da nova direita ao “Estado administrativo”. Por isso talvez não seja mesmo nenhum desatino falar na “revolução que estamos vivendo”. No último movimento da conferência, Arantes acrescenta uma pista para decifrar, para além das guerras culturais, o sentido da poeira desconstrucionista na qual estamos submersos: a idade histórica da desconstrução, com sua autorreflexividade e aniquilamento referencial, é precisamente a da Era Atômica. </p> <p>Transmitida ao vivo online, a conferência foi dada como aula inaugural do Curso de Mestrado Acadêmico em Filosofia da Universidade Estadual do Ceara-Uece, no dia 13 de maio de 2021, e contou com mediação de Gustavo Costa.</p> <p>(Resenha de Artur Renzo)</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: desconstrução, desconstrucionismo, ideologia francesa, virada linguística, Jacques Derrida, Michel Foucault, Steve Bannon, Jair Bolsonaro, bolsonarismo, Vladimir Putin, Brexit, Era Atômica, Direitos Humanos, nova direita, Alt Right, identitarismo, teoria da justiça social, justiça reparativa, pós-verdade, privilégios, aceleracionismo, Estado administrativo.</p>Paulo Eduardo Arantes
Copyright (c) 2021 Paulo Eduardo Arantes
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2021-07-262021-07-26O mundo como alvo
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<p>Faz algum tempo que vivemos em um mundo povoado de alvos. Somos inclusive alvos de um sem-número de empreendimentos, dos mais inocentemente comerciais às mais turvas operações encobertas. Uma simples consulta ao Google, não por acaso uma máquina colossal de “obter alvos”, deverá exibir com certeza alguns milhões de ocorrências, na grande maioria das línguas que operam nesse mesmo mundo coberto de alvos. Alguma coisa esta inflação deve dizer sobre a sociedade em que vivemos e a direção em que está indo. Mais de um autor está respondendo que nos anos que correm estamos entrando numa <em>sociedade de direcionamento de alvos</em>, como recentemente se traduziu <em>targeted societies.</em> Nesse meio tempo, um outro teórico mostrou que vivíamos há um bom tempo numa era em que o próprio mundo havia se tornado ele mesmo um alvo. Como não dá para enfrentar sem mais, por assim dizer em campo aberto e meramente conceitual, a hipótese de que passamos a viver, para além da disciplina e do controle, tal como os tratam Foucault e Deleuze, respectivamente, numa sociedade de alvos direcionados, podemos começar por um rodeio, para testar por nossa vez uma outra variante dessa mesma hipótese, a de que a sociedade de alvos direcionados em que nos debatemos é ela mesma o ponto de acumulação de um longo processo de <em>definição militar da realidade.</em> Se conseguirmos igualmente sugerir que o assim chamado capitalismo de vigilância se explicaria em alguma medida pela expansão daquele mesmo processo de definição da realidade, teremos quem sabe atinado com a nota específica da espantosa guerra dos mundos que se trava à nossa volta. Para resumir de outro modo essa visão do <em>mundo como alvo</em>, diremos que também se trata de uma<em> hipótese alternativa sobre a militarização contemporânea.</em></p> <p><strong> </strong></p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: era atômica, era da emergência, antropoceno, público-alvo, bombardeio estratégico, militarização, dispositivos de segurança, capitalismo de vigilância, metafísica militar, Wright Mills, Veblen, Adorno, Virilio, <em>targeted society.</em></p> <p> </p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-07-262021-07-26Esquerda e direita no espelho das ONGs
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<p>Paulo Arantes problematiza neste conhecido artigo o léxico "dos direitos da cidadania" que tem sido utilizado por autoridades governamentais vinculadas à área social e por empresas – um sistema de simulacros, uma vez que enseja a mistura dos papéis e camufla os reais interesses dos segmentos sociais envolvidos, num jogo de "coisas trocadas". Exemplos do linguajar, oriundo de ONGs, são as expressões "sociedade civil", "espaços sociais", "compromisso" e "envolvimento" entre os "atores", conduzindo a uma "participação cidadã". Da órbita empresarial, provêm "vivência empresarial", "cumplicidade", "envolvimento com o seu entorno", "parceiros" e "interlocutores no mercado", "empresa cidadã". Esse léxico integra o corpo das políticas compensatórias recomendadas pelos patrocinadores da reestruturação econômica e social em curso, tendo o Banco Mundial à frente. Nesse arcabouço de mudanças, está incluída uma nova concepção do papel do Estado, com enxugamento de parcela específica de suas funções, principalmente aquela de executor das políticas sociais, engendradas sob a égide do keynesianismo. A concretização dessas políticas passa a ser delegada a "parceiros da sociedade civil", entidades sem fins lucrativos, contando com repasses de verbas públicas. (...) Advoga-se o lugar de um Terceiro Setor gerencialmente enxuto, um Estado parceiro-facilitador que deve "estrategicamente" se retirar assim que as organizações não governamentais "demonstrarem" a superioridade de suas vantagens comparativas, uma vitória sem muito esforço, já que não havia mais em campo com quem competir, salvo a sucata preparada para tal efeito demonstrativo. Quanto às empresas, Paulo identifica presentemente a existência de "um surto esquizofrênico, pois agem, mas sobretudo falam, dando a entender que no fundo são organizações sociais sem fins lucrativos", sem, de fato, perderem a veia comercial que lhes é intrínseca. As empresas capitalizam o trabalho "voluntário" que induzem seus empregados a fazer junto às "comunidades", transformando-o em vantagem competitiva, mediante a agregação da imagem de "empresa cidadã" aos produtos e/ou serviços que colocam no mercado. O fenômeno pode ser resumido pela utilização distorcida das palavras que denomina, utilizando expressão de Vera da Silva Telles, "espantoso deslizamento semântico", contextualizando-o e denunciando sua intenção de colocar o mundo "de ponta-cabeça", de enevoar a consciência, de confundir. Esse léxico cumpre, portanto, as funções da ideologia, procurando encobrir a desigualdade na distribuição da riqueza e do poder no interior da sociedade capitalista.</p> <p>(Da resenha de Maria Rosa Lombardi)</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>ONG, reforma do Estado, empresa-cidadã, sociedade civil, terceiro setor, organizações sociais, Banco Mundial, parcerias, direitos da cidadania, marketing, público-alvo, lógica gerencial, empoderamento, privatização, linguagem, deslizamento semântico. </p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-07-252021-07-25Resumo de Lucio Costa
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<p>Em 2002, Lucio Costa completaria 100 anos. O Caderno Mais!, da <em>Folha de S. Paulo</em>, publicou um número especial em homenagem ao arquiteto e urbanista, em 24 de janeiro, com o artigo de Otília Arantes. Neste “Resumo de Lúcio Costa”, Otília retoma e desenvolve o argumento principal de outro texto, publicado na própria Folha, em 12 de abril de 1996, em resenha do livro <em>Registro de uma vivência</em>, reproduzido, com algumas modificações em <em>Sentido da Formação</em> (Paz e Terra.1997): a saber, que Lucio teria recontado a história da arquitetura brasileira do ponto de vista de um arquitetura já “formada” e que "deu certo", no sentido de ter se completado e num curto período de tempo, que vai do Ministério da Educação aos prédios da Pampulha ou ao Pavilhão da Exposição em Nova York, embora o remate venha a ser Brasília. De manifestações avulsas ao <em>sistema</em>, menos de duas décadas – um aparato de fato impressionante, sobretudo pela perícia técnica demonstrada. “Milagre” que deixaria perplexa a crítica estrangeira. Formação como parte do sistema cultural brasileiro, na acepção empregada por Antonio Candido em <em>Formação da Literatura Brasileira </em>(e Caio Prado e Celso Furtado na formação econômica). É portanto de formação nacional que se trata, sobre o pano de fundo da sempre presente herança colonial a ser superada. Ao mesmo tempo, como país dependente, o influxo externo permanece preponderante, de tal forma que sua atualização também revela o desajuste na sua origem. Descompasso histórico, que na Arquitetura Brasileira se traduziria por um certo formalismo, cujo viés estetizante acabaria por, paradoxalmente, revelar na periferia a verdade da Arquitetura Moderna na matriz, seu fundo falso por assim dizer. Como se vê, Lucio Costa, historiador e protagonista maior desta história, é quem talvez melhor resuma as contradições e ilusões do próprio Projeto Moderno. Ao mesmo tempo, sua trajetória e a interpretação que dá a ela, é seguramente a chave principal da leitura que a Autora faz do Movimento Moderno.</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Lucio Costa, Niemeyer, Le Corbusier, Escola Nacional de Belas Artes, Arquitetura Moderna, Brasília, História da arquitetura, Formação, Antonio Candido. </p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2021-07-242021-07-24O mundo-fronteira
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<p>Paulo Arantes explora a imagem original de fronteira que nasce com a modernidade e reflete sobre seus desdobramentos na atualidade geopolítica. O ponto de partida é a tese do sociólogo polonês Zygmunt Bauman de que os atentados de 11 de setembro de 2001 teriam marcado o fim simbólico da “era do espaço” e inaugurado uma era de vulnerabilidade permanente que ele denomina “terra de fronteira global”. Arantes recupera a teoria schmittiana de “<em>nomos </em>da terra” para explicar a transformação em curso. Interessa-lhe sobretudo o poder de desmistificação do pensamento liberal moderno que a franqueza do jurista alemão reacionário oferece. Afinal, sua teoria da vinculação intrínseca entre ordenamento jurídico e enraizamento espacial permite reconhecer na descoberta do Novo Mundo e na experiência colonial a precondição da instauração do <em>jus publicum eruropaeum</em>, do reconhecimento mútuo de Estados soberanos europeus e da consequente racionalização e descriminalização da guerra próprios da constituição do capitalismo. Na contramão da euforia globalizante da ideologia contemporânea, a teoria de Schmitt revela como o núcleo orgânico do capitalismo e sua periferia colonial surgem juntos e devem terminar separados, pois o fosso entre ambas seria constitutivo. A segunda consequência extraída é de que se o fundamento do estado de direito na Europa é seu avesso no ultramar, esse processo também é coetâneo de um pensamento por linhas globais. É nesse contexto que Arantes procura refletir sobre a novidade identificada por Bauman e já intuída por Schmitt no pós-guerra com o surgimento de uma potência nacional fora da Europa e que passa a reivindicar autoridade sobre um espaço já não é mais nacional. Demarcando uma nova linha global denominada “hemisfério ocidental”, os EUA inaugurariam também um novo conceito de soberania que despreza a antiga noção de anexação territorial e desarticula a relação intrínseca entre direito, Estado e territorialidade – processo que remonta tanto ao esgotamento da sangrenta expansão na <em>frontier</em> estadunidense quanto à vitória bélica avassaladora da jovem nação americana no desfecho das guerras mundiais às portas da Era Atômica. Os atentados contra o World Trade Center e os desmandos da política externa do Governo Bush aparecem assim como apenas as manifestações mais recentes e vistosas desse novo paradigma histórico em que tudo tornou-se fronteira e cuja marca é a generalização do estado de sítio.</p> <p>Realizada no dia 18 de agosto de 2004, a conferência fez parte do programa “Balanço do Século XX” promovido pelo Espaço Cultural CPFL, no módulo: “A teoria pós-moderna, a contemporaneidade e a vingança da história”, com curadoria de Bento Prado Jr.</p> <p>(Resenha de Artur Renzo)</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: guerra, soberania, colonização, liberalismo, Estado, globalização, Carl Schmitt, <em>nomos </em>da terra, Zygmunt Bauman, era do espaço, fronteira, linha global, 11 de setembro de 2001, Estados Unidos, estado de sítio, estado de exceção, Novo Mundo, imperialismo.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-07-172021-07-17A fratura brasileira do mundo
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<p>Neste ensaio, Paulo Arantes volta ao passado do futuro brasileiro, isto é, a um tema recorrente na inteligência nacional, uma espécie de mitologia compensatória do conjunto de acasos históricos que prometeriam ao Brasil um futuro grandioso. Na verdade, o pressuposto de que, a despeito de nossas misérias cada vez mais explícitas, teríamos construído formas de sociabilidade e de cultura que, um dia, poderiam ser vistas como alternativas vigorosas às formas de sociabilidade do capitalismo. Ao mesmo tempo, a sensação de que sempre estamos atrasados em relação à marcha do mundo desenvolvido e, em especial, no que diz respeito às revoluções industriais e tecnológicas. Teríamos, em certa medida, um encontro marcado com o futuro e algo a ensinar ao mundo, a despeito de nossa crudelíssima modernização conservadora. No entanto, o futuro se mostrou muito mais problemático. O que aconteceu foi uma espécie de astúcia da história. No momento em que a mitologia compensatória do Brasil, país do futuro, se esvai, a forma mesma como se constituiu o capitalismo no Brasil, com seus disparates entre o arcaico e o moderno, a ordem e a desordem, o liberalismo e a escravidão, a polarização e o dualismo entre os marginais para sempre integrados “desterritorializados”, em suma, todos esses aspectos que aparentemente impediam que o Brasil alcançasse seu futuro mítico, passaram a ser vistos como características dos países desenvolvidos do primeiro mundo, em tempos de globalização, através do termo “brasilianização”. Aquilo que poderia ser nossa contribuição ao mundo, a “singularidade” da nossa cultura e das nossas formas de sociabilidade, que nunca se aburguesam totalmente, se transformaram no “novo espírito do capitalismo”. Paulo Arantes enfrenta essa reviravolta na qual o Brasil se transforma no futuro do mundo, mas pelo avesso, como tragédia social irreparável, luta de classes horizontal (pois o topo segue inatingível), estruturação das cidades em feudos, encarceramento em massa, delinquência estimulada das elites econômicas, com sua relação sem culpa na prática de delitos em conluio com o mercado financeiro. O limiar entre ordem e desordem, a nossa incapacidade de lidar com regras básicas de civilidade, a radical divisão de classe, tudo se transformou em regra mundial. Em outras palavras, a “dialética da malandragem” atua agora em escala global. (Da apresentação de Marcos Lacerda à edição portuguesa).</p> <p><strong>Publicado originalmente em 2001</strong> como capítulo em José Luis Fiori e Carlos Medeiros (orgs.), <em>Polarização mundial e crescimento.</em> Petrópolis: Vozes, Col. Zero à Esquerda, 2001; posteriormente em Paulo Arantes. <em>Zero à Esquerda</em>. São Paulo: Conrad, 2004. <strong>E em livro, em Portugal:</strong> <em>A fratura brasileira do mundo. </em>Lisboa. Cadernos Ultramares, 2019.</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Brasil, sociedade de risco, periferia, subdesenvolvimento, dependência, colônia, dualização, desigualdade, progresso, patriotismo, polarização, integração, exclusão, violência, trabalho, desintegração, ressentimento, brazilianization, brasilianização, globalização, economia política, cidades, Antonio Candido, Celso Furtado, Caio Prado Junior, Francisco de Oliveira, Roberto Schwarz, Gilberto Freyre, Paulo Emílio Salles Gomes, Sérgio Bianchi, Ermínia Maricato, Magnus Enzensberger, Michael Lind, Ulrich Beck, Christopher Lasch, Richard Rorty, Edward Saïd, Manuel Castells, Robert Castel, Estados Unidos, França.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-07-152021-07-151964-2018: A que ponto chegamos?
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<p>Às vésperas do dia 28 de outubro de 2018, quando o então candidato Jair Messias Bolsonaro foi eleito presidente, Paulo Arantes é convidado a expor um panorama político entre dois “golpes” (1964 - 2018). Deste modo, Arantes busca reconhecer que entre o <em>golpe</em> em sentido forte, como o de 1964 e o <em>golpe</em> em sentido fraco, como o que se estabeleceu por vias legais em 2016, há uma “Era geológica” que os separam. Importante para o diagnóstico que aqui se desenha, então, é colocar em pauta as diferenças entre um e outro processo, já que a semelhança imediata entre eles ofusca a novidade do caminho político posto em marcha naquele momento: a dificuldade em ler a presente conjuntura está justamente em encarar as continuidades e as rupturas do governo Bolsonaro com o golpe militar de 1964. À luz de <em>O 18 de brumário de Luís Bonaparte</em>, análise feita por Karl Marx no calor de 1848, Arantes vai além do diagnóstico inicial do texto: não se trata de encaixar como uma fórmula histórica à realização de um golpe o jargão “primeiro como tragédia, depois como farsa”, mas sim de encontrar o movimento real que transforma um período insurgente numa catástrofe contrarrevolucionária. A semelhança entre as Jornadas de Junho de 1848, na França, e as Jornadas de Junho de 2013, no Brasil, estaria então na sua “temporalidade política decrescente”, onde a insurgência popular, por não ter como se realizar à esquerda, é abocanhada pelo seu oposto. O desgaste democrático evidenciado ainda no governo Dilma enseja o “despertar” de uma extrema direita nas ruas, e se em 2013 foi possível que a presidente acionasse a “Garantia da lei e da ordem” contra os manifestantes, já em 2016, essa mesma garantia de lei e ordem a coloca para fora do jogo parlamentar. É nesse cenário, onde os porões da ditadura se encontram com a legalidade institucional, que Bolsonaro surge. Diferente de 1964, o presente não rompe com os planos de governos anteriores, ele apenas acentua o gerenciamento militar da sociedade civil aberto pelo “neoliberalismo inclusivo” do governo petista. Quando o General Brilhante Ustra é conclamado herói por um presidente eleito democraticamente, é preciso encarar que ele rompe não só com a “democracia”, mas com a parte progressista que os próprios democratas guardaram da ditadura. </p> <p>Fala realizada em uma edição especial do “seminário das quartas”, no auditório da geografia no dia 24.10.2018, poucos dias antes do segundo turno das eleições. Depois da fala, houve um extenso debate, que não está registrado mas deve ser publicado em breve. A gravação é de Carolina de Roig Catini.</p> <p>(Resenha de Nathalia Colli)</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Golpe, Impeachment, Militares, Eleições 2018, Jornadas de Junho, Junho de 2013, Jair Bolsonaro, PT, 1964, Ditadura Militar, 18 de brumário, Dilma Rousseff, Guerra Fria, Democracia, Direitos humanos, STF, Militarização, Ernesto Geisel, Desenvolvimentismo, Modernização, Imperialismo, Regressão, Progresso, Neoliberalismo progressista.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-07-112021-07-11O último círculo: hipótese sobre a catástrofe brasileira
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<p>Como sociedades colapsadas sobrevivem diante de uma situação impossível? Talvez apenas sob o signo da delinquência, como diria Schwarz. Delinquência com aparato de delinquência oficial, para se manter na paródia buarquiana. Segundo Arantes, a catástrofe brasileira está se armando ao menos há três décadas, e é preciso especular sobre sua origem para tentar lançar luz sobre a novidade do atual processo. Na companhia de Felipe Catalani, Henrique Costa, Silvia Viana, João Paulo Pimenta, Antônio Davi, entre outros jovens pensadores, ele sintetiza nosso período imediato, pré e pós eleições de 2018, como “a catástrofe entre duas esperas”, a saber, a espera por algo novo que se abre enquanto horizonte e a espera pelo fim apocalíptico. O interesse está em averiguar através de hipóteses recentes qual o caminho responsável por gestar o bolsonarismo, bem como dar conta da sombra histórica que o acompanha, espécie de fim último do ciclo de modernização nacional. Esta sombra, para Arantes, nos remete a 1964, tendo como abismo temporal uma ditadura modernizadora, em plena Guerra Fria, e uma eleição em pleno fim de linha institucional democrático. O abismo é este: o esgotamento capitalista reverte a conjuntura mundial, e as periferias, que antes rumavam em direção ao oásis do desenvolvimentismo, agora vagam diante dos destroços da modernização. Com a imagem dos nove círculos do inferno dantesco, a hipótese sobre “o último círculo” é, então, de que o exército brasileiro encontrou uma nova brecha de ação diante de uma sociedade pós-catastrófica, onde a anomia social, figurada por Chico Buarque em <em>Estorvo</em>, passa aos ares de institucionalização política e acelera a legalização do circuito de atrocidades locais. Somado à nossa bagagem periférica, tem-se o papel internacional do exército e sua moralidade no centro do capitalismo. Exemplar desse novo modelo de confiança generalizada nas forças armadas é a França, onde a população declara ter mais proximidade com os militares do que com os governantes eleitos. Outro imperativo militar que chama atenção mundial é o exército israelense, responsável pela “exportação” de <em>know-how</em> de tortura e controle de populações em estado de miséria. No Brasil, a Nova Era militar encontrou legitimidade na força disruptiva das ruas que, em sua indignação e direito cívico, elegeu um governo de extrema-direita. Governo esse que tem sua força garantida pela racionalidade de militares coerentes, prontos para intervir e gerenciar o fim de linha da economia capitalista. O que resta então à esquerda quando espreita com olhos de lince o esgotamento da era progressista do capital? Para Paulo Arantes, muita coisa, exceto o niilismo de caserna.</p> <p>Fala realizada no dia 5 de junho de 2019 no auditório da Associação de Docentes da Unicamp (Adunicamp). Coordenado pela professora Carolina Catini, o evento foi realizado em parceria com o GEPECS – Grupo de Estudos e Pesquisas “Educação e Crítica Social”.</p> <p>(Resenha de Nathalia Colli)</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> eleições 2018, bolsonarismo, militares, Ditadura Militar, 1964, redemocratização, gestão, crise econômica, expectativas, tempo vivido, milícias, Empreendedorismo, General Villas-Boas, redes sociais, legalismo, sociedades pós-militares, <em>Estorvo</em>, modernização, formação.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-07-102021-07-10O fio da meada
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<p><em>O Fio da Meada </em>foi originalmente concebido como posfácio ao livro <em>Ressentimento da Dialética, </em>em que o autor explicaria as razões que o levaram a reunir naquele livro uma série de ensaios redigidos há cerca de quinze anos sobre as origens intelectuais da dialética hegeliana, relida de acordo com o <em>ABC da Miséria Alemã.</em></p> <p>Puro pretexto esse do posfácio, que serviu apenas para cooptar as entrevistadoras, que, ingênuas e entusiasmadas, caíram no conto-conversa do vigário, seduzidas pelo desafio de participar do livro. Acontece que Paulo Arantes não é entrevistável. Inaugura aqui um novo estilo – o da resposta-pergunta – com sua diabólica capacidade de provocar as perguntas às quais ele gostaria de responder. Assim, este livro poderia muito bem estar classificado no gênero ficção, não fosse pela verdadeira identidade de entrevistado e entrevistadoras da primeira parte e pela própria existência da segunda parte, composta de “entrevistas” já publicadas nos jornais <em>Folha de São</em> <em>Paulo </em>e <em>O Estado de São Paulo</em> e na revista <em>Teoria e Debate</em>.</p> <p>Parafraseando o autor, este livro poderia chamar-se: “Drama de consciência da filosofia profissional”, porém, do ponto de vista do leigo, poderia ser um manual intitulado “Tudo que você sempre quis saber sobre a vida intelectual no Brasil e nunca teve coragem de perguntar”. Aliás, não só por aqui: o leitor verá que há muito mais entre o Brasil e o Resto do Mundo do que possa sonhar nossa vã filosofia.</p> <p>Autor e obra são a tal ponto didáticos e esclarecedores que, assim como na literatura infantil, pode-se recomendar: “Este livro também é adequado para ser lido em voz alta”.</p> <p>(CR, ICC e MEC, orelha da edição original, 1996) </p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: Adorno, Álvaro Vieira Pinto, Antonio Cândido, Auerbach, Bento Prado, Departamento francês de Ultramar, Filosofia no Brasil, Filosofia Uspiana, Foucault, Giannotti, Hegel, Ideologia Francesa, Intelectuais, Marx, Revolução de 1968, Roberto Kurz, Roberto Schwarz, Ruy Fausto, Teoria Crítica, Tradição Crítica Brasileira.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-07-102021-07-10Formas urbanas em mutação
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<p>Esta entrevista à Vera Pallamin (FAU USP), para o dossiê temático “Produção e midiatização do espaço urbano no capitalismo contemporâneo”, da <em>Revista Eletrônica Internacional de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura</em> (<em>Eptic</em>, jan-abril 2014), “Formas Urbanas em Mutação”, Otília Arantes fala sobre as transformações que vêm ocorrendo nas formas e apropriações dos espaços nas cidades, em especial nos grandes centros urbanos – transformações para as quais os antigos conceitos, como o de “espaço público”, não dariam mais conta, numa era de “formas urbanas extremas”. Segundo Otília, era de um novo urbanismo que, na verdade, é um antiurbanismo, ou algo que se situa para além do urbanismo: colapso da urbanidade que estaria por se alastrar por cidades que não obedecem mais a nenhum plano, salvo o de sua expansão sem limites, megalópoles que crescem e se autodestroem continuamente – os exemplos são principalmente as grandes cidades chinesas (estudadas por ela em seu livro <em> Chai-</em>na, EDUSP, 2011), tanto quanto as grandes aglomerações do “planeta favela” (na expressão de M. Davis), ou seja, do gigantismo compulsivo das cidades factoides do oriente aos seus extremos patológicos, como a capital da Nigéria. Formas urbanas extremas que, obviamente, designam não apenas suas composições físico-espaciais com seus contrastes arquitetônicos, mas suas diferenças sociais abismais. Portanto, convergência de origem entre o hiperespaço das formas urbanas extremas e a geografia de uma “nova guerra” de cidades literalmente “sitiadas”.</p> <p>Numa segunda parte da entrevista o tema proposto por Vera Pallamin é a economia política da cultura, quando a culturalização da cidade a que se assistiu a partir de meados do século XX, fez com a cultura não só se tornasse central na conformação dos fenômenos sociais, como igualmente a acumulação impulsionada pelo capital-informação se convertesse, numa economia-política da reprodução, em economia cultural. Respondendo à questão sobre a função do arquiteto neste contexto, Otília retoma seus argumentos sobre o papel que teria exercido a arquitetura aparatosa, especialmente dos equipamentos culturais, nas novas estratégias de “requalificação” dos espaços urbanos, numa era de prevalência da imagem. (Ver nesta plataforma, reunindo 3 textos da década de 1990, <em>Cultura, poder e dinheiro na gestão das cidades</em>).</p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: Espaço urbano, espaço público, formas urbanas extremas, megalópole, cidades chinesas, Lagos, Warfare State, Mike Davis, Koolhaas, Jameson, economia cultural, cidade empresa, cidade-colagem, Olimpíadas, equipamentos culturais.</p>Otilia Beatriz Fiori Arantes
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2021-07-052021-07-05Cultura, poder e dinheiro na gestão das cidades
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<p>Estão reunidos neste volume três textos-síntese de diferentes escritos e comunicações de Otília Arantes durante a década de 90 sobre concepções e estratégias de intervenção nas cidades com vistas a “regenerá-las” enquanto lugares devidamente “animados” pela reativação de seu valor histórico e simbólico, ou seja pelo seu “viés cultural”. Um programa de “volta à cidade” depois dos Modernos que pretende estar restituindo às suas populações uma vida pública inviabilizada pelos planos reguladores da cidade funcional. Tema central do primeiro ensaio: <strong>“A ideologia do lugar público na arquitetura contemporânea”</strong>, onde a autora traça um roteiro das teorias que dominam o debate sobre a cidade na segunda metade do século XX, animadas, desde o período de pós-guerra, do desejo de recompor o tecido urbano. Da retomada das lições de Camillo Sitte contra a “agorafobia” dos modernos, ou a defesa dos monumentos, passando pelos Ciam, especialmente o de 54 sobre o <em>Cuore</em> da cidade, à recuperação exemplar de Bolonha e aos diferentes contextualismos, dentre eles, o regionalismo crítico – aos quais chega a dar um certo crédito, na linha um tanto otimista de Frampton, mas para pô-los, logo adiante (no segundo ensaio deste volume), na berlinda. Em <strong>“Cultura da cidade, animação sem frase”</strong>, a nova ensaística da “cidade redescoberta” e os projetos que a ela correspondem são esmiuçados de modo a demonstrar o quanto uma tal reversão, mobilizando um aparato muito <em>up to date</em>, do pós-estruturalismo, especialmente das teorias desconstrucionistas, mal escondem um convívio estetizante com as formas mais extremadas de alienação, onde tudo parece obedecer ao princípio máximo da “flexibilização”. Daí o primado do desenho — do traçado urbano ao <em>design</em> dos microespaços — e do tipo de <em>representação simbólica</em> que lhe corresponde. A ênfase deixa de ser predominantemente técnica, como no período anterior, para recair no vasto domínio <em>passe-partout</em> do <em>“</em>cultural<em>”</em>. No momento em que as cidades passam a ser encaradas como um repertório de símbolos, <em>tudo virou cultura</em>. Num mundo, ao mesmo tempo dominado pelo mercado, cultura e dinheiro acabam por se dar as mãos. Simultaneamente, o processo induzido de “gentrificação” vai tomando a forma mais flexível de algo que se aproxima daquilo que os antigos “propagandistas” da identidade – referidos no ensaio anterior – passam a chamar de transculturalismo, translocalismo, nomadismo, mestiçagem, etc. Centralidade da cultura no capitalismo avançado, como enfatiza Fredric Jameson, quando assistimos à superposição, paradoxal, entre duas instâncias que, em princípio, deveriam ser antagônicas. O que vai ser explorado no último ensaio <strong>“Uma estratégia fatal, a cultura nas novas gestões urbanas”.</strong> Aparente contradição, expressa já no título, e que anuncia não uma reversão de um processo nefasto por ação da cultura, mas, ao contrário, um reforço. Nesta fase (sobretudo nos anos 90), dá-se um retorno do planejamento, mas então, designado como estratégico, visando a inserção das cidades no circuito global dos grandes negócios, e que vai agravar ainda mais o inchaço cultural, imperante desde que governantes e investidores passaram a desbravar uma nova fronteira de acumulação de poder e dinheiro – o negócio das imagens. O “tudo é cultura” da era que parece ter se inaugurado nos idos de 60 teria pois se transformado de vez naquilo que se poderia chamar de CULTURALISMO DE MERCADO, quando finalmente assistimos à convergência (quem sabe involuntária) entre as duas gerações urbanísticas que até então se imaginavam contrapostas, a dos contextualistas e a dos empreendedores, e uma assimilação a tal ponto integral que já não é mais possível distinguir dissidentes e integrados.</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: Lugar público, praças, monumentos, teoria do lugar, contextualismo, território, Regionalismo crítico, Benjamin, Simmel, Camillo Sitte, Cacciari, Cregotti, Rossi, Grupo Tendenza, volta à cidade, gentrificação, museus, Fredric Jameson, pós-estruturalismo, Desconstrução, Eisenman, Purini, Trienal de Milão, Planejamento estratégico, culturalismo de mercado, Cultural Turn, Paris, Barcelona, Bilbao, Lisboa, Berlim.</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2021-06-272021-06-27Mário Pedrosa
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<p>Neste livro, Otília reconstitui as grandes linhas de uma trajetória, nada linear, de um dos maiores críticos de arte do Brasil e que acompanhou de perto, ao longo de quase todo o século XX, as idas e vindas da arte internacional. Mário Pedrosa, sem nunca abandonar a militância política, jamais dissociará revolução social e arte a mais avançada, ou arte independente – o que nem sempre interpretou da mesma maneira. Ou seja, apesar de suas reticências iniciais em relação àquela arte moderna que na conferência de 1933, sobre Käthe Kollwitz, identificava como “um jogo pueril de formas”, aos poucos, como político e como revolucionário, foi se dando conta do quanto a luta pela libertação da humanidade passa pela preservação e ampliação daquele mínimo de iniciativa de que ela pode dispor na sociedade capitalista e, portanto, a olhar com outros olhos a arte burguesa e a tentar adivinhar aí a convergência, embora incipiente, entre uma arte que chamou de hermética, confinada na aparência estética, e aquela que ia buscar sua inspiração na “dramática fermentação” da sociedade. Em seu retorno do exílio, em 1945, embora já afastado do trotskismo, mantinha-se fiel à máxima do <em>Manifesto por uma arte independente</em> – “A independência da arte para a revolução e a revolução para a independência da arte” –, encetando uma batalha sem trégua para que o Brasil saísse do isolamento e se alinhasse à arte mais avançada da época. Não há dúvida que esbarrava nos impasses característicos de um país periférico, onde falar de independência artística é algo no mínimo problemático, mas o sopro de ar novo que trouxe obrigou nossos artistas e críticos a porem em discussão o rumo que a arte, em nítido refluxo em relação às conquistas vanguardistas, ia tomando entre nós. Em defesa da arte abstrata, alegava estar ela elaborando os símbolos de uma linguagem plástica inédita, destinada a nos arrancar da atonia perceptiva quotidiana, na esperança de encurtar a distância que nos separa dos “horizontes longínquos da utopia”. O ápice de uma tal empreitada seria Brasília – a grande síntese anunciada pelas vanguardas e reativada pelo projeto construtivo abstrato – cujo feito não apenas registraria, mas defenderia ardorosamente, tendo inclusive promovido um encontro internacional de críticos de arte, em 1959, sob o título “Brasília, síntese das artes”.</p> <p>Originalmente publicado em 1991, por ocasião dos 10 anos de morte de Mário Pedrosa, republicado em 2004, foi acrescentado o texto “Atualidade de Mário Pedrosa”, escrito por ocasião de seu centenário, situando-o na grande linhagem crítica brasileira. Mantivemos aqui integralmente esta última edição.</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Mário Pedrosa, Crítica de arte, Arte proletária, Arte abstrata, Concretismo, Neoconcretismo, Gestalt, Pós-Modernismo, Arquitetura Brasileira, Brasília, Bienais</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2021-06-212021-06-21Um departamento francês de ultramar
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<p>Este livro se insere, explicitamente, como atesta seu subtítulo – <em>Estudos sobre a Formação da Cultura Filosófica Uspiana </em>–, num esforço da nossa historiografia de reconstruir linhas evolutivas mais ou menos contínuas, isto é, num projeto que privilegia períodos de formação. Nesta série – que inclui, entre outros, <em>Formação do Brasil Contemporâneo</em>, de Caio Prado Jr., e <em>Formação Econômica do Brasil</em>, de Celso Furtado –, Paulo Arantes aproxima-se mais do horizonte teórico do Antonio Candido de <em>Formação da Literatura Brasileira</em>, seja pelo assunto – o vir-a-ser de um sistema cultural que, superando os surtos desgarrados e as curiosidades intelectuais avulsas, estabeleceu, pelo entrelaçamento de obras e de problemas específicos, um “filtro” à oferta internacional de teoria e modelos –, ou seja pela descrição não-normativa da acumulação material da experiência intelectual por meio de uma rotina que descambou, enquanto resultado coletivo, na força produtiva histórica de uma vida filosófica efetiva. Não se trata, porém, da reconstrução histórica de um período de acumulação. Este <em>Um Departamento Francês de Ultramar</em> é ele próprio uma contraprova da constituição de uma continuidade filosófica no Brasil. Afinal, retoma, em suas características e delineamentos principais, de forma crítica e abrangente, o trabalho de seus predecessores (não apenas de Cruz Costa, o malogrado historiador da filosofia brasileira, mas também dos membros daquela geração que nos anos 1960 completou o ciclo formativo da filosofia brasileira). Arantes amplia o escopo do ensaísmo filosófico implantado entre nós por Bento Prado Jr., ao incorporar a sociologia e a história ao diálogo, proposto por este, entre literatura e filosofia, fazendo do momento expressivo – em vez de uma forma de revelação do espaço rarefeito da linguagem – um elemento indispensável da investigação, sempre mediada, de objetos já pré-formados culturalmente. Examinando a “crença na co-naturalidade entre filosofia e literatura”, Arantes desvenda não só os pressupostos da concepção de Bento Prado – a teoria de um “absoluto literário” –, como também atinge “o miolo vulnerável da Ideologia Francesa da literatura”. O mesmo fio, de dois gumes, permite que se decifre a cultura europeia, o mundial, o centro e a vida intelectual brasileira, o nacional, a periferia.</p> <p>Esse fio resulta – dito de forma brusca – da experiência intelectual e social brasileira, que nos induz, de certo modo, ao “sentimento da dialética”. Transposta assim para um solo histórico, reencontramos a mesma preocupação de Giannotti e Ruy Fausto acerca do significado da dialética que deu origem ao capítulo brasileiro – que Arantes com este livro, de certa forma, reinventa – do marxismo ocidental.</p> <p>(Ricardo Musse, orelha da versão impressa)</p> <p>Também disponibilizamos para download o número especial do Caderno Mais! da Folha de S.Paulo (6 de fevereiro de 1994), dedicado ao lançamento do livro, com o título "A aventura da Filosofia Paulista". Nele, Paulo é entrevistado por Fernando de Barros e Silva e Vinícius Torres Freire. </p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Filosofia e Literatura, Cultura filosófica, USP, Missão francesa, Anos 1960, Filosofia no Brasil, Formação, Método estrutural, Jean Maugué, Víctor Goldschmitt, Martial Gueroult, Gérard Lebrun, Gilles-Gaston Granger, João Cruz Costa, Bento Prado Jr, José Arthur Giannotti, Oswaldo Porchat, Ruy Fausto.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-06-132021-06-13Tarifa zero e mobilização popular
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<p class="p1">Em 27 de junho de 2013, a convite do Movimento Passe Livre (MPL), Paulo Arantes participou de uma aula pública defronte à sede da Prefeitura de São Paulo (então ocupada por seu ex-orientando, Fernando Haddad). Na aula, Paulo se propôs responder a duas questões. A primeira: "Como se explica, então, como em uma semana um milhão de pessoas foi às ruas?". A segunda questão diz respeito ao mote dessa enorme mobilização, uma metáfora extraída do hino nacional, “o gigante adormecido em berço esplêndido, se o gigante acordou, cabe nos perguntar com o que sonhava ele nos vinte anos em que esteve mergulhado em um sono profundo?"</p> <p class="p1"><span class="Apple-converted-space">Recomendamos que além de assistir à aula, leia o ebook <em>Depois de junho a paz será total</em>, nesta plataforma, avaliando o significado das jornadas de Junho. </span></p> <p class="p1"> </p> <p class="p1"><strong><span class="Apple-converted-space">Palavras-chave: </span></strong><span class="Apple-converted-space">Jornadas de junho; MPL; ativismo; mobilização; direitos civis; sit-in; movimento negro; opinião pública; povo brasileiro; transporte coletivo; poder popular. </span></p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-03-312021-03-31Depois de junho a paz será total
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<p><em>Depois de junho a paz será total</em> é o título irônico do <em>tour de force</em> que encerra a nossa viagem e que procura dar conta do vínculo entre pacificação e insurgência. Pulverizando os clichês propagados à direita e à esquerda – “baderna” de rua protagonizada por vândalos a serem devidamente dedetizados pelas forças da ordem, ou esquerdismo infantil de uma juventude desorganizada, sem direção e que, portanto, dará em nada –, Paulo Arantes vai rastreando, na literatura recente sobre as classes populares urbanas no Brasil e em publicações de protagonistas dos eventos, ideias que lhe permitam construir hipóteses sobre a genealogia dos acontecimentos de junho de 2013. Dessa maneira, leva a cabo a interpretação mais original desses eventos realizada até agora. Se pusermos na panela de pressão brasileira os seguintes ingredientes, quase todos indigestos: o Programa de Pacificação das Favelas no Rio de Janeiro com suas UPPs, na verdade uma estratégia de guerra; a violência policial contra os moradores das periferias urbanas; as remoções forçadas exigidas pelos megaeventos; as políticas públicas que, ao incitar o empreendedorismo dos pobres, se, por um lado, canalizam sua energia para uma atividade governável, por outro, criam um sedimento reivindicativo à espreita para explodir; as lutas pela cidade, levadas a cabo por uma geração de “cidadãos insurgentes” exigindo a democratização do solo urbano; a “agonia do trabalho descartável, mostrando que o capitalismo como religião em sua forma contemporânea tornou-se um espantoso e interminável ‘ritual de sofrimento’”; as revoltas populares pelo transporte público; a síndrome da participação cidadã sem poder, etc. – todos temas analisados pelo Autor –, desconfiamos que esse conjunto de fenômenos faz sistema e explica, quem sabe, a “nova insurgência profanatória” que explodiu nas ruas em junho. (...) Encarar esse estado de coisas e dar um passo adiante é a tarefa da nova geração, que abriu uma porta em junho de 2013.</p> <p>(Excerto da Nota introdutória de Isabel Loureiro)</p> <p>Acompanha o livro, o link para a <strong>Aula Pública: Tarifa zero e mobilização popular, </strong>ocorrida no calor dos acontecimentos, em 27 de junho<span class="Apple-converted-space"> </span>de 2013, a convite do Movimento Passe Livre (MPL), defronte à sede da Prefeitura de São Paulo.<span class="Apple-converted-space"> A transcrição resumida da aula está incluída no Ebook. </span></p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Junho de 2013, manifestações, insurgência, revolta, pacificação, juventude, classes populares, trabalhadores, cidades, trabalho, sofrimento social, transportes, MPL, anticapitalismo, neoliberalismo, democracia, controle social, recusa, utopia, tempo presente. </p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-03-302021-03-30A realidade contemporânea é economicista
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<p>Em entrevista para a ADUSP (Associação dos Docentes da USP) em 1998, Paulo Arantes avalia como catastrófica a possibilidade de Fernando Henrique Cardoso – a quem se refere como professor Cardoso –permanecer mais quatro anos na presidência da República. Porém, acredita na reeleição de FHC em consequência da desarticulação da esquerda e da eficiente implantação de um processo de chantagem social, que faz com que a população se sinta ameaçada com a possibilidade da volta da inflação. Para o filósofo Paulo Arantes, tem-se a impressão de que não existem mais diferenças entre esquerda e direita porque a economia se transformou em algo autônomo em relação à sociedade. Ele critica também o Partido dos Trabalhadores e afirma que a legenda está interessada apenas em ganhar eleições e eleger deputados. No âmbito da universidade, Paulo Arantes critica os grupos que se apoderam da chancela ‘USP’ para vender serviços e cursos. “Aqui é uma universidade de país pobre, indiano, a gente tem de dar cursos de graduação e pós. Não temos uma missão de interferência na política de formar grandes diplomatas”, afirma Paulo Arantes.</p> <p>Entrevista para Marcos Cripa e Adilson Citelli na Revista Adusp, abril de 1998.</p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> FHC, PT, USP, esquerda, direita, intelectuais, universidades, pensamento único, Estado mínimo, globalização, razão cínica, marxismo.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2021-03-172021-03-17Um ponto cego no projeto moderno de Jürgen Habermas
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<p>Redigido em 1990, o presente escrito é uma versão ampliada a quatro mãos de um estudo original de Otília Arantes, apresentado com o mesmo título no Simpósio Internacional “Brasil Século XXI”, em novembro de 1988, na Unicamp. As datas importam também por remeter a todo um debate transcorrido ao longo dos anos 80 sobre a flagrante incongruência da exceção aberta por Jürgen Habermas ao Movimento Moderno, no mesmo momento em que o filósofo declarava obsoleto o paradigma da produção, chancelando a tremenda reestruturação produtiva que estava mudando para pior a cara do capitalismo. Fica ainda mais incompreensível a operação de salvamento preconizada por Habermas, sabendo-se que o Movimento da Arquitetura Moderna nada mais era do que a mais abrangente e acabada personificação da Utopia Técnica do Trabalho e da civilização estético-maquinista do século XX. Ignorando os ímpetos sistêmicos de todo aqueles impulsos que tornavam funcional a utopia de fundir num só bloco o viés estético do Construtivismo às mais elementares finalidades sociais, Habermas foi multiplicando distinções categoriais <em>ad hoc</em> enquanto descrevia o esgotamento do Estado Social, do qual justamente a Ideologia do Plano era mais do que fachada legitimadora, na verdade coluna de sustentação de qualquer iniciativa urbanística. A tentativa de identificação das razões de tamanho disparate histórico foi sem dúvida o disparador do presente estudo acerca do envelhecimento estrutural do Movimento Moderno. O desencaixe que Habermas não viu, ou por outra, a funcionalização integral que lhe escapou e converteu em apologia cega, saltava aos olhos, era a evidência mesma, para qualquer um, armado pelo espírito crítico local, que se dispusesse a examinar as razões da involução formalista, entre outras anomalias, inerentes ao arco completo cumprido pelo Movimento Moderno, que a verdade daquele triunfo internacional foi aos poucos desnudando.</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Habermas, Modernidade, Projeto Moderno, Movimento Moderno, Pós-modernismo, Ideologia, Arquitetura, Nova Construção, Urbanismo, Plano, Utopia, Trabalho, Ação Comunicativa, Linguistic Turn, Iluminismo, Razão, Teoria Crítica, Welfare, Brasil, Brasília, Adorno, Benjamin, Wellmer, Peter Bürger.</p>Otília Beatriz Fiori ArantesPaulo Eduardo Arantes
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2021-02-222021-02-22Zonas de espera
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<div class="value"> <p>Uma tremenda mutação temporal virou de ponta cabeça o mundo que o capitalismo vencedor está reorganizando e governando. Mutação cuja fratura exposta se encontra justamente na virada punitiva operada pelo estado bifurcado estudado por Loïc Wacquant. São <em>duas esperas</em>: uma disciplinadora da insegurança social alimentada pela inquietação do trabalho desqualificado; outra envenenando a euforia perpétua das novas classes confortáveis que o capital costuma acariciar com uma mão e infernizar com uma outra. A forma predominante de <em>intervenção</em> em nome da ordem que a guerra contemporânea assumiu é tributária de uma virada punitiva onde a desmedida reina, da estratégia de Choque e Pavor ao desenho do arsenal cirúrgico concebido para gravar a memória perene da dor na mente de seus alvos preferenciais, novamente disseminados pelas populações liminares do mundo-fronteira contemporâneo, entendendo-se por fronteira toda sorte de barreira por cuja terra de ninguém (social, econômica, simbólica, etc.) campeia o peso morto do poder punitivo despertado de sua sonolência social pelos novos Estados do <em>Workfare.</em></p> <p>Publicado originalmente em 2012 como capítulo em Vera Malaguti Batista (Org.). <em>Loïc Wacquant e a questão penal no capitalismo neoliberal</em>. Rio de Janeiro: Revan, p. 229-280; e posteriormente como capítulo em Paulo Arantes. <em>O novo tempo do mundo</em>. São Paulo: Boitempo, 2014, p.141-198.</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Estado de Exceção<strong>, </strong>Loïc Wacquant, Giorgio Agamben, Trabalho, Encarceramento, Refugiados, Geopolítica, Contemporaneidade, Capitalismo, Horizonte de espera, Ernst Bloch, Territórios ocupados, Palestina.</p> </div> Paulo Eduardo Arantes
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2021-02-012021-02-01Um mundo coberto de alvos
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<p>Um ano antes de Hiroshima e Nagasaki, mas já “depois do fim dos tempos”, Theodor Adorno vislumbrou nas bombas-robô de Hitler que alvejavam as cidades inglesas a confirmação pelo avesso da filosofia hegeliana da história. Na intuição premonitória dele, as ogivas V2 eram o equivalente contemporâneo do “espírito do mundo” encarnado (não mais a cavalo mas agora “sobre asas e sem cabeça”), e sua combinação aterrorizante de perfeição técnica e ausência de subjetividade exprimia a substância da própria horda fascista que coroava o processo de modernização. Essa é a primeira das ideias que Paulo Arantes começa a desempacotar da ilustração de capa da edição de maio de 2020 do <em>Le Monde Diplomatique Brasil </em>que lhe serve de trampolim para traçar uma genealogia da militarização contemporânea. <img src="https://sentimentodadialetica.org/public/site/images/pedroarantes/o-mundo-coberto-de-alvos-capa-e-fotogramas.jpg" alt="" width="892" height="695" />A segunda, correlata, é de que a concepção de mundo como alvo configura o elo entre o atual pânico pandêmico e o “tempo do fim” que segundo Günther Anders a Bomba Atômica inaugura. Afinal, foi no momento em que o mundo começou a ser visto como um alvo que ele passou a ter um prazo de validade. Extraindo as consequências dessa automatização do artefato bélico tornado sujeito histórico cego (à maneira do Capital), Arantes coloca Rey Chow em diálogo com C. Wright Mills para demonstrar como a idade do mundo como alvo corre junto com um longo processo de definição militar da realidade. No berço dessa metafísica militar encontramos a acepção originalmente ambivalente do termo alvo: ora ofensiva, ora defensiva. Essa descoberta etimológica atribuída a Samuel Weber será chave para compreender a dialética do mundo como alvo, principalmente a partir do “acontecimento sideral” que para Arantes demarca uma bipartição no tempo do fim. Isso porque com a emergência do corpo político Terra, as sociedades de controle passam a conceber o planeta como um frágil organismo cuja destruição pode ser acelerada ou adiada, mas sobretudo gerenciada – movimento não por acaso coetâneo do surgimento da governamentalidade neoliberal. Se a esta altura o horizonte de desenvolvimento foi literalmente para o espaço, aqui as políticas sociais focalizadas, elas próprias de origem militar, entram em cena para fazer a alocação calculada de recursos cada vez mais escassos, sempre condicionada por reforços negativos disciplinadores, visando não mais que um controle de danos em países e populações-alvo. Eis o denominador comum da atual proliferação de alvos direcionados em que se converteu a sociedade contemporânea, marcada numa ponta pela dominação algorítmica do dito capitalismo de vigilância e noutra pela mira predatória do drone.</p> <p>Conferência realizada no dia 11 de junho de 2020 e transmitida ao vivo no canal de YouTube do laboratório “Filosofias do tempo do agora” (CNPq/UFRJ) coordenado pela professora Carla Rodrigues.</p> <p>(Resenha de Artur Renzo)</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> mundo com alvo; Era Atômica; pandemia; covid-19; Bolsonaro; fascismo; Theodor Adorno; Georg Hegel; Samuel Weber; Rey Chow; C. Wright Mills; Hans Magnuns Enzensberger; Robert McNamara; metafísica militar; militarização; espírito do mundo; tempo do fim; Bomba Atômica; sujeito automático; bomba V2; guerra; Guerra Fria; corrida espacial; acontecimento sideral; antropoceno; governamentalidade; neoliberalismo; drone; políticas públicas focalizadas; capitalismo de vigilância; sociedade do controle; algoritmos.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2020-07-282020-07-28Do tempo
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<p>Às vésperas de uma virada inédita na História da humanidade, que já ia nos alcançando no pós-carnaval de uma manhã daquele início de março de 2020, ali no espaço térreo do SESC da Avenida Paulista, no contexto da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, diante de um público que enfrentara fila para vê-los e ouvi-los, Paulo Arantes e Ailton Krenak ensaiam um encontro inusitado de perspectivas. Era a mesa de abertura de um seminário que trazia o título “Perspectivas Anticoloniais”, movido pela pergunta geral “o que ainda podemos fazer juntos?”, e que tinha como tema o tempo. Especialistas do fim do mundo como o conhecemos, Arantes e Krenak atacam, por assim dizer, os pressupostos de um mundo insustentável. Num caso como no outro, o tempo do mundo e sua ideologia do adiamento do fim são denunciados em seu enredo de devastação. Como sugere Krenak, a globalização é o outro nome de uma colonização aparentemente sem fim – e, aqui, a fisionomia própria de um mundo que não sabe morrer. Arantes, então, se alinha com a ironia krenakiana, e traça a história recente de um Ocidente que se define precisamente pelo relógio do adiamento, cuja lógica, todavia, é a do extermínio. Seremos capazes de evadir o tempo do fim? Desenha-se assim uma espécie de escapografia negativa, em que, escavando frestas na suspensão que nos captura, vemos o trabalho da imaginação no reconhecimento de outras temporalidades. Era um encontro de gente de teatro, e talvez não surpreenda a conversa nesses termos; isso, se Krenak estiver certo ao supor a arte como “o lugar mais provável” para encontros improváveis. A história da crise final tem a sua teologia, e resta saber se ainda temos tempo para dar um fim no juízo do deus-capital. O poder mimético de destruição do vírus, em toda sua viromaquia, nada revela senão os limites de um presente que devemos fazer passar.</p> <p>Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. Encontro <strong><em>Perspectivas Anticoloniais</em></strong></p> <p>Mesa: <strong><em>Do tempo. </em></strong>06 de março de 2020. Curadoria: Andreia Duarte, Christine Greiner e José Fernando Peixoto de Azevedo. SESC Avenida Paulista</p> <p>(resenha do mediador do debate, José Fernando Peixoto de Azevedo)</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> fim do mundo, adiar, tempo, colapso, insustentável, encontro, anticapitalismo, anticolonialismo, natureza, história.</p> <p> </p>Paulo Eduardo Arantes
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2020-07-262020-07-26Ainda se trata de era atômica: o tempo do fim
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<p>Por mais que possa parecer ultrapassado, não há nada de anacrônico em dizer que estamos em plena Era Atômica. Paulo Arantes reconstitui o itinerário histórico da Idade Nuclear e seus intérpretes, demonstrando como nela se encontra a origem política de questões como o aquecimento global, o antropoceno e mesmo a crise pandêmica em curso. As implicações políticas e filosóficas dessa mudança epocal invisível, recalcada na euforia progressista da derrota do nazismo e do fim da Guerra Fria, são lidas através do roteiro de Günther Anders. Aqui, a incomensurabilidade própria do horizonte de destruição nuclear terá ancoragem não apenas no avanço tecnológico da modernização, como também na experiência material de desresponzabilização moral ligada ao processo de instrumentalização do trabalho. É também o que explica o desaparecimento da ideia de futuro: com os indivíduos desconectados das consequências de sua atividade, cada vez mais subsumida aos encadeamentos cumulativos do trabalho de zelo, a própria noção de fim torna-se um ponto cego da ideia de progresso. Por isso a tarefa política do “tempo do fim” é formulada como um esforço de adiar o “fim dos tempos”, que no entanto não chega a ser inexorável. Recuperando o debate europeu sobre a crítica ao “fetichismo nuclear”, Arantes aponta como essa cegueira também acometeu boa parte da intelectualidade de esquerda, que se recusou a levar até as últimas consequências o novo paradigma inaugurado com a Bomba. O último movimento da conferência se volta para a periferia e procura dar conta de como esse tempo do mundo é vivido pelo filtro das expectativas brasileiras. Se por um lado a tônica ascensional e modernizadora de superação do subdesenvolvimento aparece em estranho descompasso com os ponteiros do “tempo do fim”, um olhar atento para as intuições poéticas de Carlos Drummond de Andrade guardará um importante poder de revelação sobre os impasses dessa era do “mundo como alvo”.</p> <p>Realizada no dia 17 de dezembro de 2020, a conferência fez parte do ciclo primeiro ciclo de Web Seminários “Hegel e a Política, novos rumos”, promovido pela revista <em>Estudos Hegelianos</em> e organizado pelos professores Emmanuel Nakamura (Unicamp), Fábio Nolasco (UnB), Inácio Helfer (Unisinos), Polyana Tidre (Unisinos) e Ricardo Crissiuma (UFRGS).</p> <p>(Resenha de Artur Renzo)</p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: Era Atômica, Bomba Atômica, tempo do fim, Günther Anders, Martin Heidegger, Carlos Drummond de Andrade, Celso Furtado, subdesenvolvimento, novo tempo do mundo, progresso, trabalho de zelo, horizonte de expectativas, mundo como alvo, imperialismo, fetichismo nuclear, sociedade de risco, antropoceno, pandemia, Guerra Fria.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2020-07-172020-07-17Da arqueologia do tédio para a metafísica da espera
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<p>Se há alguém que viveu à altura do seu tempo, foi sem dúvida Walter Benjamin, sobretudo na hora final em que o fascismo bateu à sua porta. Verificar e comprovar a atualidade de seu pensamento hoje, depende assim de uma resposta de igual envergadura à mesma pergunta cuja urgência norteou desde sempre sua vida intelectual e política: em que tempo vivemos Ora, como Walter Benjamin no entre-guerras do século passado, voltamos a viver tempos apocalípticos, um tempo de "revelações" demonstradas por desastres cuja escala nos ultrapassa, do risco de catástrofe nuclear (100 minutos para meia noite desde 27 de janeiro de 2020...) à ameaça de extinção da vida no planeta. Acontece que o tempo do fim no qual passamos a viver, mesmo depois da derrota (apenas) militar do fascismo, já não é mais o mesmo tempo messiânico em cujo poder disruptivo Walter Benjamin ainda podia confiar, pois se tratava de um Tempo de Espera que para nós já passou, ou pelo menos assumiu uma feição que não sabemos mais reconhecer. No que segue, procuramos identificar esse primeiro termo de nossa comparação entre as duas respostas históricas acerca do tempo vivido nas dimensões do mundo em crise permanente. Para tanto, seguimos uma pista sugerida apenas de passagem por Susan-Buck Morss, a saber, que revirando pelo avesso a experiência oitocentista dominante do "tédio" e seus desdobramentos contemporâneos, seja nas suas configurações literárias maiores ou menores, como nos gestos emblemáticos de personagens exemplares como o flanneur, o jogador, o homem revoltado etc, Walter Benjamin estava de fato elaborando uma verdadeira Metafísica da Espera, aliás como tantas outras similares nas primeiras décadas do século vinte, por exemplo Kracauer, para ficar numa amostra maior e próxima, para não falar na Montanha Mágica etc. Mas uma Espera, a benjaminiana, cujo foco de expectativa máxima irradiava paradoxalmente de todo um feixe de promessas e frustrações dramáticas sedimentadas num passado de escombros acumulados. No decorrer ziguezagueante de uma exposição própria de uma live, nos depararemos assim com as mais variadas fontes dessa construção benjaminiana, dos bocejos satânicos dos românticos desviantes à vigília revolucionária surrealista, passando pelo espirito da utopia segundo Bloch e toda a legião de intelectuais dissidentes do messianismo judaico na Europa Central. Se é verdade que precisamos reaprender a esperar, a lição de Benjamin acerca da tradição da esperança adormecida no avesso do tédio mais envenenado e mortífero - e que hoje deve estar atendendo por outros nomes, do famigerado e sempre alegado ressentimento ao niilismo de massa - não poderia ser mais atual, apesar da disparidade quase intransponível dos nossos respectivos tempos de catástrofe. </p> <p> </p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Walter Benjamin<strong>, </strong>Tempo do Fim Apocalipse, Arqueologia do Tédio, A Metafísica da Espera, Scholem, Bloch, Breton, Temporização da História, A Grande Espera, Júbilo, Espera da guerra, Espera da revolução, Morrer de tédio, Expectativas nacionais, Angelus Novus, Políticas de reparação, Antonio Candido</p> <p><strong> </strong></p>Paulo Eduardo Arantes
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2020-02-052020-02-05Filosofia e crise da civilização brasileira
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<p>O argumento desta conversa gira em torno de uma possível resposta "filosófica" - mais precisamente, nos termos da cultura filosófica institucionalmente aclimatada em São Paulo em meados do século passado - ao processo de descivilização, como poderia dizer Norbert Elias, cuja aceleração estamos vivendo desde que a sociedade brasileira dobrou espantosamente à direita e levou ao poder todo um projeto de reversão radical das expectativas progressistas descortinadas há cinquenta anos com o fim da Ditadura. O título desta intervenção não só parafraseia um enunciado similar do fenomenologo Edmund Husserl, como remete à tese central de seu derradeiro apelo à razão diante da irresistível escalada do nazifascismo na Europa dos anos 30, a saber: só uma restauração da Filosofia, em sua inteireza original de orientação no mundo da vida à luz da estrela guia da Teoria enquanto visão da verdade, poderia reverter a destruição fascista em andamento da razão. Ocorre que esta flagrante ilusão ilustrada de classe média reformadora -iniquidade social e mentalidade esclarecida são incompatíveis- encontra-se na base da resposta da cultura filosófica uspiana ao Golpe de 1964. A exposição partirá então, da persistência de longa duração dessa aposta nos efeitos políticos do Esclarecimento, para um sobrevoo histórico até o desmantelo atual, ao longo do qual se destacará a peculiaridade maior da assim chamada civilização brasileira, uma invenção de nosso Alto Modernismo artístico: a idéia de que a régua e o compasso da construção nacional por vir deveria ser buscada numa cultura de fundo popular historicamente pacificadora e antiburguesa. Seria então o caso de verificar se a miragem desta convergência entre utopia estética e utopia social não teria começado a se desfazer bem antes de seu defecho catastrófico atual. Restaria saber se ainda se poderia chamar de filosófica a reação mais apropriada a um acontecimento extremo e monstruoso como esse, o naufrágio de toda uma civilização material e espiritual de um país além do mais periférico. </p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Crise, Extinção, Emergência, Crítica dialética, Hegel, Marx, Adorno, Filosofia, USP, Antonio Candido, Roberto Schwarz, Jornadas de junho de 2013, Civilização, Antropoceno, Antropofagia, Francisco Bosco, Caio Souto, Conversações filosóficas.</p>Paulo Eduardo Arantes
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2020-01-202020-01-20Pelo prisma da estética
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<p>Entrevista concedida à revista <em>Rapsódia,</em> do Departamento de Filosofia da FFLCH-USP, em 2002. Na entrevista, Otília refaz sua trajetória acadêmica e intelectual, ao mesmo tempo em que vai expondo seu pensamento a respeito de vários temas a que se dedicara até então, da crítica de Mário Pedrosa à arte pós-moderna, do esgotamento da Arquitetura Moderna à centralidade da cultura nas novas estratégias urbanas, os novos museus, a indústria cultural e a cultura do espetáculo, o lugar da crítica e, a questão central, presente ao longo da entrevista: a morte ou a sobrevida da arte, por consequência, da Estética.</p> <p><strong>Publicado originalmente em 2002 </strong>na Revista <em>Rapsódia: almanaque de filosofia e arte</em>, n.2. São Paulo: Departamento de Filosofia FFLCH-USP, p. 221-264.</p> <p><strong>Palavras-chave: </strong>Estética, FFLCH USP, CEAC, Artes plásticas, Arquitetura Moderna, Gilda de Mello e Souza, Mário Pedrosa, Charles Baudelaire, Habermas, Roberto Schwarz, Experiência estética, Morte da Arte, Hegel, Espetáculo, Cidades, Guy Débord, Adorno, Museus, Curadoria, Moda</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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2002-01-122002-01-12Gilda de Mello e Souza
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<div class="value"> <p>Os quatro ensaios que compõem este livro procuram dar conta do que se poderia chamar de “método” do ensaísmo crítico de Gilda de Mello e Souza. Muito embora a nota específica de sua prosa de ensaio não se reduza a uma questão de método, não seria exagero caracterizar seu estilo como uma variante altamente elaborada daquilo que o historiador Carlo Ginzburg chamou de “método indiciário”, que por sua vez entronca na linhagem que Lionello Venturi reabilitou na figura do perito-<em>conoscitore. </em>Na esteira do desinteresse pela teoria, típico do grupo <em>Clima</em>, Gilda muito cedo percebeu “a importância desse exercício crítico minucioso, paciente, centrado na observação das características mais insignificantes”. Uma amostra exemplar deste procedimento encontra-se no ensaio sobre a crítica cinematográfica de Paulo Emílio Sales Gomes, que ela interpreta como um singularíssimo exercício de perícia detetivesca. Pois é essa mesma abordagem indiciária que lhe permite reconhecer em Almeida Jr. o pintor que pela primeira vez revela em suas telas o “homem brasileiro”, inaugurando um novo ciclo da pintura no Brasil, que até então obedecia aos esquemas herdados do academicismo europeu na representação dos temas nacionais. Deixando-se levar por sua própria experiência de menina do interior, mas sobretudo, pelo olhar educado no estudo das técnicas corporais descritas em sua tese sobre a Moda no Século XIX, Gilda foi assim capaz de identificar essa figura, à margem dos esquemas culturais importados, através dos mínimos indícios e sinais presentes em todo um ritual de gestos e posturas corporais das figuras do pintor ituano. Com isso, algo como a formação da pintura brasileira por assim dizer despontava no horizonte, culminando no Modernismo, para depois se desdobrar em outras configurações, como nos casarios dos pintores da Escola Paulista, chegando até às cidades esvaziadas de um Gregório Gruber. A dívida de Gilda para com os mestres “amadores” franceses (Jean Maugüé, Lévy-Strauss e Roger Bastide) é recapitulada no último ensaio. Ao final, encerrando esse volume, um trecho de uma entrevista de Otília Arantes, dada em 2016, por ocasião dos dez anos de morte de Gilda de Mello e Souza.</p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: Gilda de Mello e Souza, Estética, Crítica de Arte, História da Arte, Artes Plásticas, Pintura, Moda, Formação, Almeida Jr., Mário de Andrade, Gilberto Freire, O homem brasileiro, O maleiteiro, Dinâmica dos gestos, Século XIX, Eliseu Visconti, Mário Pedrtosa, Tarsila do Amaral, Família Paulista, Gregório Gruber, Ensaismo, Carlo Guinzburg, Método indiciário, Gombrich, Estrutura relacional, Leonello Venturi, Grupo Clima, Jean Maugüé, Lévy Strauss, Roger Bastide, Crítica de Amador</p> </div>Otília Beatriz Fiori ArantesPaulo Eduardo Arantes
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1996-02-111996-02-11Arquitetura simulada
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<p>Nos dois ensaios que compõem este e-book – “Arquitetura Simulada” (1988) e “Margens da Arquitetura” (1993) – encontram-se os primeiros registros, na obra de Otília Arantes, da produção arquitetônica que se seguiu ao esgotamento da Arquitetura dos Modernos. Produção que trazia, enfaticamente, a marca característica do novo Espírito do Tempo: a entrada em cena, aparatosa e espetacular – pois afinal se trata de arquitetura e de sua nova centralidade na ordem capitalista emergente –, de uma das dimensões mais ostensivas do paradigma dito da Comunicação. Acompanhamos assim a metamorfose do formalismo, em que culminara a exaustão dos Movimento Moderno (analisada aqui pela primeira vez nos escritos de Otília), num universo de imagens autorreferidas, elevadas ao paroxismo da imaterialidade do Simulacro. Para explicar essa mutação da Arquitetura depois dos Modernos, a Autora recorre, entre outras providências materialistas, às observações de Walter Benjamin acerca da disciplina tátil do olhar na origem desse triunfo duvidoso da pura visualidade, lembrando que é justamente na arquitetura da cidade que se encontra a matriz dessa civilização do Simulacro. Como é demonstrado já no roteiro do primeiro ensaio. Partindo da espetacularidade fachadística da arquitetura que fazia publicidade de si mesma na 1ª Bienal de Arquitetura de Veneza (1980), com sua <em>Strada Novissima</em> a lembrar as ruas de Las Vegas, passando pelas fantasias <em>high tech</em> de uma arquitetura de <em>Science Fiction</em>, como a do grupo inglês, do <em>Archigram, </em>ou pela Arquitetura contextual (chamada à época, pela Autora, de “contextualismo crítico”, e que, um pouco nas pegadas de Frampton, pretendia, ao menos neste texto, que pudesse assumir o papel de uma arquitetura de resistência), até chegar àquela arquitetura que se autointitulava “frívola”, na acepção mesma que lhe atribuía Eisenman, ou “fútil” (utilizando o conceito de Derrida, referência teórica explícita do arquiteto). Ou seja, até o limite de uma arquitetura reduzida a um jogo infinito de combinações e desconstruções. Análise retomada e expandida no segundo texto – apresentação do catálogo de uma exposição de Peter Eisenman no MASP, desta vez concentrando-se na obra paradoxal do arquiteto mais emblemático da virada desconstrucionista. Um arquitetura que se instala na sua “margem”, outra palavra chave da novíssima filosofia francesa à época.</p> <p><strong>Palavras-chave</strong>: Adorno, Aldo Rossi, Archigram, arquitetura “frívola”, arquitetura “obscena”, arte de massa, Bienal de Veneza, B. Brecht, C. Lasch, CIAM, Le Corbusier, desconstrução, dobra, experiência e vivência, F. Jameson, K. Frampton, G. Pasqualotto, Hans Hollein, high-tech, Hiper-realismo, J. Baudrillard, J. Derrida, J-F Lyotard, <em>Les Immateriaux,</em> M. Tafuri, Movimento Moderna, P. Portoguesi, P. Eisenman, Pós-estruturalismo, Pós-modernismo, “Presença do Passado”, R. Moore, R. Venturi, Regionalismo crítico, simulacro e simulação, <em>Strada Novissima,</em> Tátil e ótico, W. Benjamin. </p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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1988-09-051988-09-05Manfredo Tafuri
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<p>Foram escolhidas, dentre as várias falas, aulas e entrevistas de Otília Arantes, dedicadas a Manfredo Tafuri, duas palestras, pronunciadas em dois eventos acadêmicos da USP: a primeira, de 1994, uma homenagem de Otília ao arquiteto, historiador e crítico, logo após sua morte, num seminário sobre História da Cidade no campus de São Carlos, e a segunda, vinte anos depois, proferida num seminário internacional, “Manfredo Tafuri, seus leitores e suas leituras”, na FAU (fevereiro de 2015). Ambas tomando como foco principal seu livro<em> Progetto e Utopia: Architettura e Sviluppo Capitalistico</em>. A primeira, “A Arquitetura da Cidade: um ponto de vista”, após situar o Autor no contexto dos estudos sobre Arquitetura e Urbanismo na Itália dos anos 1960/70, procede a uma minuciosa análise de texto do livro citado, especialmente no seu diagnóstico sobre o esgotamento do Movimento Moderno, cada vez mais profundamente ligado, segundo Tafuri, à cidade como estrutura produtiva, portanto, reduzido a “mecanismo operativo” e, sua “ideologia do plano”, a uma “utopia regressiva”. Seguem-se algumas considerações sobre as manifestações posteriores, ditas pós-modernas, cuja crítica leva Tafuri a propor, como alternativa ao historicismo dominante, um “niilismo compiuto”. A interpretação deste último conceito, tomado naquele momento como expressão de um certo “pessimismo paralisante”, é retomada, passadas duas décadas, ao final da segunda exposição, mas já numa leitura que a própria Otília considera mais justa, interpretando-a como consequência natural de uma “filosofia da negação”. Este, aliás, o tema da conferência: “A dialética negativa de Manfredo Tafuri”, em que a Autora procura reconstituir, em diálogo com Asor Rosa, as raízes marxistas de Tafuri, seu ponto de vista dialético, apenas sugerido na primeira fala, ou melhor, sua inserção na tradição marxista italiana, temperada, ao menos a partir de um certo momento, pela influência de um pensamento que começava a se difundir na Itália à época, ao menos no meio acadêmico italiano (anos 1960/70): a Teoria Crítica da Escola de Frankfurt – sem desprezar outras referências que compõem o que ela chama de “marxismo heterodoxo” ou de “saudável ecletismo” do pensamento “nada linear” de Tafuri.</p> <p>O link para o vídeo desta última conferência é disponibilizado em botão abaixo dos ebooks para download. </p> <p><strong>Palavras-chave:</strong> Vanguardas, Metrópole, Movimento Moderno, Ideologia do plano, Utopia, Antolini, Laugier, Corbusier, Bauhaus, Arquitetura italiana, Niilismo, Semiologia, Estruturalismo, Nietzsche, Foucault, Método genealógico, Ginzburg, Asor Rosa, Marxismo, Dialética, Walter Benjamin, Adorno, Brecht</p>Otília Beatriz Fiori Arantes
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1921-07-171921-07-17