O último círculo: hipótese sobre a catástrofe brasileira

Palestra na Adunicamp

2019

Autores/as

Paulo Eduardo Arantes

Sinopsis

Como sociedades colapsadas sobrevivem diante de uma situação impossível? Talvez apenas sob o signo da delinquência, como diria Schwarz. Delinquência com aparato de delinquência oficial, para se manter na paródia buarquiana. Segundo Arantes, a catástrofe brasileira está se armando ao menos há três décadas, e é preciso especular sobre sua origem para tentar lançar luz sobre a novidade do atual processo. Na companhia de Felipe Catalani, Henrique Costa, Silvia Viana, João Paulo Pimenta, Antônio Davi, entre outros jovens pensadores, ele sintetiza nosso período imediato, pré e pós eleições de 2018, como “a catástrofe entre duas esperas”, a saber, a espera por algo novo que se abre enquanto horizonte e a espera pelo fim apocalíptico. O interesse está em averiguar através de hipóteses recentes qual o caminho responsável por gestar o bolsonarismo, bem como dar conta da sombra histórica que o acompanha, espécie de fim último do ciclo de modernização nacional. Esta sombra, para Arantes, nos remete a 1964, tendo como abismo temporal uma ditadura modernizadora, em plena Guerra Fria, e uma eleição em pleno fim de linha institucional democrático. O abismo é este: o esgotamento capitalista reverte a conjuntura mundial, e as periferias, que antes rumavam em direção ao oásis do desenvolvimentismo, agora vagam diante dos destroços da modernização. Com a imagem dos nove círculos do inferno dantesco, a hipótese sobre “o último círculo” é, então, de que o exército brasileiro encontrou uma nova brecha de ação diante de uma sociedade pós-catastrófica, onde a anomia social, figurada por Chico Buarque em Estorvo, passa aos ares de institucionalização política e acelera a legalização do circuito de atrocidades locais. Somado à nossa bagagem periférica, tem-se o papel internacional do exército e sua moralidade no centro do capitalismo. Exemplar desse novo modelo de confiança generalizada nas forças armadas é a França, onde a população declara ter mais proximidade com os militares do que com os governantes eleitos. Outro imperativo militar que chama atenção mundial é o exército israelense, responsável pela “exportação” de know-how de tortura e controle de populações em estado de miséria. No Brasil, a Nova Era militar encontrou legitimidade na força disruptiva das ruas que, em sua indignação e direito cívico, elegeu um governo de extrema-direita. Governo esse que tem sua força garantida pela racionalidade de militares coerentes, prontos para intervir e gerenciar o fim de linha da economia capitalista. O que resta então à esquerda quando espreita com olhos de lince o esgotamento da era progressista do capital? Para Paulo Arantes, muita coisa, exceto o niilismo de caserna.

Fala realizada no dia 5 de junho de 2019 no auditório da Associação de Docentes da Unicamp (Adunicamp). Coordenado pela professora Carolina Catini, o evento foi realizado em parceria com o GEPECS – Grupo de Estudos e Pesquisas “Educação e Crítica Social”.

(Resenha de Nathalia Colli)

Palavras-chave: eleições 2018, bolsonarismo, militares, Ditadura Militar, 1964, redemocratização, gestão, crise econômica, expectativas, tempo vivido, milícias, Empreendedorismo, General Villas-Boas, redes sociais, legalismo, sociedades pós-militares, Estorvo, modernização, formação.

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