O que 68 tem a dizer sobre nós?

Palestra em simpósio na USP

2018

Autores/as

Paulo Eduardo Arantes

Sinopsis

Em O que 68 tem a dizer sobre nós?, Paulo Arantes dá início à conversa invertendo a preposição, não se trata do que 1968 diz sobre nós, mas, sobretudo, para nós, no Brasil de 2018. Partindo do 68 Europeu, Arantes analisa três conjunturas distintas para viabilizar a discussão, a saber, o maio Francês e suas consequências imediatas; o chamado Anos de Chumbo na Itália e, por fim, o encontro tardio entre a juventude alemã e o pensamento da Escola de Frankfurt. O mote da análise não está tanto nas movimentações aguerridas da época, mas em certo espectro do passado onde os levantes pareciam buscar escopo. A França desfrutava de promissora tranquilidade e avanço nos direitos trabalhistas desde o pós guerra, o welfare state parecia ter afastado o monstro fascista para longe, reconstruindo desde então o potencial civilizador do capitalismo. Em trinta anos de crescimento e pacificação capitalista (essa possível apenas pela retaguarda da bomba atômica), o antifascismo dos aliados foi engavetado, dando como página virada da história o tempo do horror. Os blocos rígidos, divididos pela guerra fria, tratavam de administrar e salvaguardar o bem estar social de suas populações, garantindo a normalidade. O ponto de virada, portanto, parece ocorrer quando a tranquilidade material do centro europeu deixa de garantir o contentamento da sociedade diante da vida: algo como um novo tédio contra o establishment sacode o chão francês. Diante da tentativa de “ataque aos céus”, a repressão recrudesceu, fazendo surgir dali um novo sinal de alerta contra o falecido: a repressão é o fascismo! A paz liberal acabou militarmente com o fascismo, mas não com suas raízes. A movimentação autônoma, por fora das organizações burocráticas stalinistas, passam a preocupar novamente os donos do poder, colocando na ordem do dia a discussão sobre o antifascismo. Embora a ideia do fascismo tenha se tornado um jargão comunista, algo como um excesso retórico durante o pós-guerra, alguns sismógrafos artísticos (entre eles Bergmann, Bertolucci e Visconti) apontavam na virada dos anos 60 para os 70 os perigos da paz social militarizada. Na Itália, em resposta à sua modernização tardia e relâmpago, algo anômalo brota do desenvolvimentismo: uma espécie de transgressão de extrema direita, sustentada pela máfia e por poderes paramilitares, se junta à democracia cristã para fazer vingar em território atrasado a sociedade de consumo. Uma junção entre capitalismo de gestão, exclusão, militarismo e gangsters. Arantes chama atenção ao termo de Pasolini para definir o período italiano: trata-se, para o cineasta e ensaísta, de uma mutação antropológica, que passa a ordenar um novo fascismo. O que é sustentado, também, pela redescoberta alemã dos textos radicais de Adorno, Horkheimer e Marcuse, que já apontavam antes do fim da guerra à impossibilidade de expulsar o fascismo do mundo, como se ele fosse sempre a saída última para o esgotamento da burguesia. O esgotamento político do início do século XX, resolvido pela brutal gestão modernizadora fascista, agora encontrou um novo teto: o colapso econômico e ambiental do capitalismo o encaminha para um novo período de extinções, como se um novo corvo ecoasse que não há solução para uma civilização que já se autodestruiu.

Palestra de encerramento do simpósio “O que 68 tem a dizer sobre nós?” pelo Prof. Paulo Eduardo Arantes, em 30/11/2018 - Prédio de Letras - FFLCH - USP

(Resenha de Nathalia Colli)

Palavras-chave: Maio de 68; Fascismo; Antifascismo; Adorno; Marcuse; Horkheimer, Welfare State; pós-guerra; Pasolini; Berlusconi; Máfia; Itália; Alemanha; Autonomismo; Consumo; Extinção; Crise ambiental; Crise econômica; Modernização; Brasil, 2018; Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial; Bomba atômica. 

 

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