1964: um país feito num só golpe
Conferência no lançamento de O novo tempo do mundo
2014
Sinopsis
Em 1964: um país feito num só golpe, Paulo Arantes retoma alguns argumentos centrais de seu texto sobre o período para indagar, à luz de 2014, os objetivos do golpe militar de 64. Direto ao ponto, Arantes sustenta que um dos objetivos do golpe seria extinguir da memória nacional a ideia de que por aqui já houve inconformismo político, não um inconformismo qualquer, mas aquele que mobiliza as pessoas comuns para o desejo de se organizar politicamente. Não se tratava, portanto, de interromper uma revolução em curso, mas de extirpar pela raiz a movimentação do povo, incontrolável e ameaçador. Pautado na definição nada ortodoxa de Greg Grandin, Arantes defende que a política é uma dimensão de encaminhamento das expectativas humanas, algo como uma dissonância entre a realidade e as ideias que mobilizam uma época, como se na base da utopia estivesse um espírito messiânico da transformação, capaz de atingir a todos. Eis que por aqui a contrarrevolução veio antes da revolução. Para Arantes, o golpe veio à América do Sul com intuito de arrumar a casa, antes que essa tivesse base suficiente para a insurgência popular. O mérito do golpe, então, cumprido com eficiência ao toque do terror completo, foi manter o horizonte de expectativas numa espécie de reconciliação democrática com o progresso (utopia negativa). Sem política, sem golpe. Nas bases da mediação e do equilíbrio, o que restou de 1964 para o Brasil foi defender, civilizadamente, a parte que lhe cabe do latifúndio global, digo, restou ao subdesenvolvimento manter-se atado ao subcapitalismo, dando razão à formulação de FHC, quando este ainda era apenas um sociólogo. Socialismo fora do jogo, ao Brasil sobrou uma democracia de baixa intensidade. Algo como afirmar que só sofremos o golpe porque não defendemos a democracia o suficiente, com o golpe ficamos diante da fratura brasileira da barganha política do pós-guerra: se a revolução não vier, o welfare state está mantido, do contrário, é guerra. Guerra, aliás, com Bomba Atômica e ameaça latente de destruição mútua. Passados cinquenta anos de golpe, a política de transição segue incompleta, talvez porque a democracia de baixa intensidade que nos foi entregue não seja uma vitória à esquerda, mas uma missão cumprida com sucesso pelos militares. Mas é também nesta data redonda, com meio século de distância, em que algo fora das instituições democráticas volta a chacoalhar a política no Brasil: junho de 2013 marca o fim de uma era apaziguada e as expectativas humanas são novamente mobilizadas para algo. Para o quê ainda não se sabe, se a direita saiu à frente na luta contra a institucionalização da política, há também uma massa de trabalhadores precários, entre motoboys e atendentes de call center, que flertam com o desemprego, bem como com a fúria pela sobrevivência.
Conferência e debate de lançamento de "O novo tempo do mundo", com Paulo Arantes no Espaço Cultural Latino Americano (ECLA). Realizado no dia 15/05/2014, o evento integrou o ciclo "A ditadura que não passa" do seminário Labirintos e trincheiras promovido pelo coletivo Zagaia.
(Resenha de Nathalia Colli)
Palavras-chave: Golpe; 1964; Militares; Democracia; Marighela; Política de Transição; Comissão da Verdade; Guerra - fria; Junho de 2013; FHC; Diretas Já; Ameaça atômica; Prazo; Expectativa, Política; América do Sul; Guatemala; Greg Grandin; Socialismo; Democrático Popular; Populismo; Trabalhismo; Assalariamento; Entregadores; Call Center; Desemprego.
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