Do tempo

Debate com Ailton Krenak na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo

2020

Autores

Paulo Eduardo Arantes

Sinopse

Às vésperas de uma virada inédita na História da humanidade, que já ia nos alcançando no pós-carnaval de uma manhã daquele início de março de 2020, ali no espaço térreo do SESC da Avenida Paulista, no contexto da Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, diante de um público que enfrentara fila para vê-los e ouvi-los, Paulo Arantes e Ailton Krenak ensaiam um encontro inusitado de perspectivas. Era a mesa de abertura de um seminário que trazia o título “Perspectivas Anticoloniais”, movido pela pergunta geral “o que ainda podemos fazer juntos?”, e que tinha como tema o tempo. Especialistas do fim do mundo como o conhecemos, Arantes e Krenak atacam, por assim dizer, os pressupostos de um mundo insustentável. Num caso como no outro, o tempo do mundo e sua ideologia do adiamento do fim são denunciados em seu enredo de devastação. Como sugere Krenak, a globalização é o outro nome de uma colonização aparentemente sem fim – e, aqui, a fisionomia própria de um mundo que não sabe morrer. Arantes, então, se alinha com a ironia krenakiana, e traça a história recente de um Ocidente que se define precisamente pelo relógio do adiamento, cuja lógica, todavia, é a do extermínio. Seremos capazes de evadir o tempo do fim? Desenha-se assim uma espécie de escapografia negativa, em que, escavando frestas na suspensão que nos captura, vemos o trabalho da imaginação no reconhecimento de outras temporalidades. Era um encontro de gente de teatro, e talvez não surpreenda a conversa nesses termos; isso, se Krenak estiver certo ao supor a arte como “o lugar mais provável” para encontros improváveis. A história da crise final tem a sua teologia, e resta saber se ainda temos tempo para dar um fim no juízo do deus-capital. O poder mimético de destruição do vírus, em toda sua viromaquia, nada revela senão os limites de um presente que devemos fazer passar.

Mostra Internacional de Teatro de São Paulo. Encontro Perspectivas Anticoloniais

Mesa: Do tempo. 06 de março de 2020. Curadoria: Andreia Duarte, Christine Greiner e José Fernando Peixoto de Azevedo. SESC Avenida Paulista

(resenha do mediador do debate, José Fernando Peixoto de Azevedo)

 

Palavras-chave: fim do mundo, adiar, tempo, colapso, insustentável, encontro, anticapitalismo, anticolonialismo, natureza, história.

 

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